O Albergue do Anjo da Guarda

 

O ALBERGUE DO ANJO DA GUARDA

Miguel Carqueija

 

Resenha do romance infantil “A Casa do Anjo da Guarda”, pela Condessa de Ségur. Editora do Brasil S.A., 2ª edição, sem data. Adaptação de Virginia Lefèvre. Ikustrações de Maria Heloisa Penteado.

 

Minha mãe costumava falar de um livro que ela gostaria de ler, ou reler: “O albergue do anjo da guarda”. E um belo dia achei num sebo “A casa do anjo da guarda”, pela célebre autora das “Memórias de um burro”. Concluí que era a mesma obra, que pode ter sido publicada no Brasil em edições com títulos diferentes. Assim, pude comprar e dar para mamãe.

Chamada Sophie Feodorovna Rostopchine, a autora era russa mas a família, por motivos políticos, estabeleceu-se na França em 1817; Sophie tornou-se condessa casando-se em 1819 com o Conde Eugène Henri Raymond. Embora tenha começado tarde a escrever, a Condessa de Ségur deixou obra volumosa, sendo que “L’auberge de l’ange gardien” (como se vê é mais correta a tradução “O albergue do anjo da guarda”, embora também se possa traduzir como “A pousada do anjo da guarda”) teve seu lançamento em 1863. Já em 1856 ela lançara “Nouveaux contes de fées” (Novos contos de fadas).

A novela é bastante ingênua embora fale em problemas sociais difíceis. Um soldado, Moutier, encontra na estrada, cheios de fome, frio e cansaço, dois irmãos ainda crianças, Jacques e Paulo, que se achavam perdidos, sem lar nem nada. A mãe morrera após longa enfermidade; o pai fôra levado por soldados e os meninos não sabiam bem porque. Compadecido, Moutier, que andava acompanhado pelo cachorro Capitão, acaba deixando os meninos na pensão da Sra. Blidot, viúva (26 anos), e sua irmã Elfy (17 anos). Entram em cena um general russo, um pároco, um menino órfão que trabalhava como escravo em outra hospedaria e o pais dos irmãos, que reaparece anos depois, já que não sabia onde suas crianças se encontravam.,

O final tende a ser muito cor-de-rosa, com dois casamentos, prosperidade econômica, as crianças felizes.

Detalhe curioso é a generosidade do General Dourakine. Em tese ele era prisioneiro de guerra de Moutier, que o havia capturado ferido, numa guerra entre a França e a Rússia (a guerra napoleônica? Não há muito esclarecimento histórico); mas na prática movia-se livremente. Um hoteleiro ruim — que escravizava o menino Pedro — sequestra o general com olho em seu dinheiro, mas é preso por Moutier.

O general, agradecido, passa a se dedicar a Moutier, às mulheres da Casa do Anjo da Guarda (como o local era conhecido) e aos irmãos Jacques e Paulo. Mas o que espanta é que os recursos do general parecem não ter fim, pois, além de financiar os dois casamentos, ainda compra um imóvel e pratica outras generosidades espantosas, com a maior facilidade. Que general rico!

Na verdade, sem esse general, que inclusive banca o cupido entre Elfy e Moutier, e entre Derigny (o pai dos garotos) e Blidot, seria tudo bem mais difícil ou não se resolveria.

O livro termina com a promessa de outro livro contando as aventuras do general e do casal Derigny que, com os dois meninos, acompanha Dourakine em sua viagem à Rússia. Trata-se sem dúvida do romance editado no mesmo ano, “Le Général Dourakine”.

Leitura divertida e boa para crianças de certa idade.

 

Rio de Janeiro, 4 a 7 de junho de 2024.