Contos plausíveis - Carlos Drummond de Andrade

Ótimo livro : sendo de Drummond, se não fosse ótimo ao menos seria muito bom

Carlos Drummond de Andrade - Contos plausíveis, São Paulo, Companhia das Letras, 2012

São 150 pequenos textos. Apenas uns poucos, três ou quatro, são maiores do que uma página. Os demais cabem em meia página, pouco mais ou menos que isso. O primeiro deles é explicativo, do próprio Carlos Drummond de Andrade (1902-1987), reproduzido abaixo. Os escritos restantes, que ele também chamou de "contos de bolso", compreendem pequenas fábulas, iluminações cotidianas, historietas, anedotas e crônicas poéticas que aqui ficaram registrados sob o título de "contos plausíveis". Drummond mesmo explica:

"Estes contos (serão contos?) não são plausíveis na acepção latina de merecerem aplauso. São plausíveis no sentido de que tudo neste mundo, e talvez em outros, é crível, provável, verossímil. Todos os dias a imaginação humana confere seus limites, e conclui que a realidade ainda é maior do que ela. Não posso dizer, verdadeiramente, que os escrevi. Escreveram-se no dia a dia do Jornal do Brasil, sem intermediação de forças misteriosas. Queriam existir como estórias, ocuparam papel e hoje formam livro."

Depois disso vá lendo e passando horas agradáveis mergulhado no mundo poético, imaginativo drummondiano, convivendo com bailarinas, atrizes de cinema, girafas, almas perdidas, baleias, lavadeiras de Moçoró, formigas e o amor delas, o papagaio premiado, o sexto gato, Frank Sinatra, o santo do pau oco etc. Num conto desses, tudo pode acontecer ou até mesmo nada. Ainda, o autor pode aumentar um ponto contando um conto ou aumentar vários, tudo é conto, tudo é contável, tudo é plausível aqui. Encantadoramente plausível.

Por fim vem o alentado posfácio da professora Noemi Jaffe, Prosa de Brinquedo, onde ela destaca a inocência e a ironia drummondianas presentes na obra, desde o título até o conteúdo desses contos plausíveis. Em seguida ela mostra que há certa afinidade do autor nesse gênero curto com nosso maior contista, Machado de Assis. Finalmente conclui : "[...} estes Contos plausíveis possibilitam ao leitor o sonho, que qualquer admirador de sua poesia certamente alimenta, de um Drummond mais otimista." É isso, o mundo parece melhor (ou menos pior, depende) enquanto se lê a prosa poética de Drummond.