Pimpinela Escarlate, precursor dos super-heróis

 

PIMPINELA ESCARLATE, PRECURSOR DOS SUPER-HERÓIS

Miguel Carqueija

 

Resenha do romance “Pimpinela Escarlate”, da Baronesa de Orczy. Editora Tecnoprint S.A., Rio de Janeiro-RJ, Edições de Ouro, Coleção Calouro, ES1688, sem data. Tradução de Sérgio Duarte. Título original inglês: “The Scarlet Pimpernel”.

Confesso que eu não conhecia o trabalho de Emma Orczy, ou Baronesa Orczy (1865-1947), nascida na Hungria mas considerada escritora britânica. Ela parece ter criado a primeira mulher detetive da ficção, Lady Molly, anterior à Miss Marple de Agatha Christie. E parece ser também a pioneira dos super-heróis ao criar o Pimpinela Escarlate no início do século 20. Pimpinela é uma espécie de rosa. O personagem, Sir Percy Blakeney, é um aristocrata inglês que se torna um super-herói conforme diversos clichês do gênero. Por exemplo, o título em vez de nome, que esconde a sua identidade secreta. O hábito de deixar a sua marca — o desenho da flor pimpinela — a sua esperteza e coragem e o uso da espada. Em sua identidade civil, fazer-se de bobo, ingênuo ou alienado — como Bruce Wayne, Clark Kent ou Dom Diego de La Vega. E ser mestre em disfarces.

O romance é fascinante e o Pimpinela Escarlate se especializa em salvar vítimas da Revolução Francesa que seriam sacrificadas na horrenda guilhotina, isso na década de 1790. Com o auxílio de alguns amigos leais o Pimpinela Escarlate tornou-se odioso aos esbirros da Revolução Francesa, já que por ações audaciosas e fazendo uso de disfarces incríveis — inclusive de mulher velha — ele propiciou a fuga de muitos fugitivos da violenta repressão.

O vilão da história é Monsieur Chauvelin, agente francês, homem caviloso e cruel, chantagista e maquiavélico. O grande objetivo de Chauvelin é atrair o Pimpinela Escarlate para uma armadilha em território francês, onde poderá prendê-lo.

A certa altura da novela, que se torna cada vez mais envolvente, a esposa de Lord Percy, a francesa Marguerite St. Just, se agiganta na história ao perceber que, visando salvar o irmão — ameaçado pela chantagem de Chauvelin — ela acaba dando a este uma dica sobre a localização do Pimpinela Escarlate. Quando ela descobre que o seu marido, a quem ela desprezava por julgá-lo estúpido, era o Pimpinela Escarlate, o herói que ela admirava, Marguerite resolve agir, entrar nos acontecimentos.

A sucessão de lances emocionantes — com notável suspense — envolve os leitores. A história é tão boa que é ótimo saber que é apenas a primeira de uma série (não contando a peça teatral que veio antes). Por vários capítulos acompanhamos a angústia de Marguerite, que se dirige à França numa corrida desesperada contra o tempo, disposta a salvar o marido agora que descobriu que o ama.

O trajeto do Canal da Mancha é feito na companhia de Sir Andrew Ffoukes, um dos membros da Liga do Pimpinela Escarlate. Ela o encontra em casa e, numa cena bem armada, revela o que sabe e obriga o outro a agir, diante da ameaça mortal que pesa sobre Percy: seu cruel inimigo já sabe o endereço na França onde o Pimpinela Escarlate se dirigiu para encontrar seus companheiros e planejar mais resgates.

Um pouco de humor além de amor, heroísmo, suspense — um romance em tudo e por tudo admirável e que termina com uma impressão de “quero mais”.

 

Rio de Janeiro, 3 de junho de 2024.