O AMOR DE UMA PROSTITUTA, de Flora Salvador - Resenha Literária

1. FICHA TÉCNICA

Título: O Amor De Uma Prostituta

Autora: Flora Salvador

Edição: Ésobrenós Editora

Ano: 2023

N° de páginas: 109

Género: Narrativo

Subgénero: Romance

Formato: Livro Impresso

1.1. DADOS CATALOGRÁFICOS

FLORA SALVADOR, escritora angolana nascida em Luanda, transborda amor pela arte e pela natureza, vê na literatura um meio de descoberta. Licenciada em Engenharia Informática e em Psicologia pela Faculdade de Estrangeiros da Universidade do Ministério do Interior da Rússia e mestrada em Psicologia das Organizações, é co-fundadora da Liga das Mulheres Africanas em Angola. Tem poesias publicadas nas antologias poéticas “Fénix” e “Kutanga”, Ed. Òmnira-2020, como também na revista Literalivre/Brasil, e colaboradora da revista angolana de Literatura. “O amor de uma prostituta” é a obra de estreia da autora, pertencente ao género narrativo, publicada pela Ésobrenós Editora, em Outubro de 2023, juntamente da obra “Tons da Alma”.

A capa, nas cores preta e vermelha, penso que bem combina, as letras em vermelhas e o fundo preto, junto de uma figura feminina e o logótipo da editora disposta no mesmo padrão. Passando para a diagramação e a paginação, a Ésobrenós Editora consegue chamar atenção com o seu estilo.

2. ANÁLISE E RESENHA

2.1. Conceitos preliminares - Começando a nossa conversa

A obra é construída de 5 capítulo, acentuada num delimitar fechado, narrada no olhar da 3ª pessoa, variando entre o solo angolano, congolês e brasileiro, do mesmo modo, as variações idiomáticas, fascinante ainda, pelo uso do regionalismo angolano e o falar dos musseques, apresentando personagens que expressam vida própria e simples, criados para um propósito devido, alternando com o enredo que procura seu encaixe até ao final. A autora recorre-se à técnica narrativa da prolepse para dar abertura, o encaixe entre a natureza do género e a obra, o título e o tema - mensagem, as figuras de estilos, a concordância entre os elementos da oração e os da coerência e coesão no texto mesmo quando, às vezes, mais recorrências à repetição, o que causa certo ar monótono.

2.2. Desenvolvimento - Continuando a nossa conversa

Sempre existiu uma forte razão por trás de qualquer criação, com a presente obra não é diferente, um contributo da escritora Flora Salvador no contexto social, mostrando que é alguém que não vira às costas aos dilemas da época a qual vive, sem dúvidas, como fruto de suas leituras da sociedade. Em conversa com a autora, contou-me que o senso da humanização é o âmago da obra, o grande intuito, a mensagem que o leitor tem de captar, directamente ou indirectamente, ser impulsionado por uma acção, fazendo assim o seu papel enquanto ser social.

Nhakatolo, a nossa protagonista, mostra-se uma mulher como outras, com sonhos altos, com medos, com firmeza e força, na sua trilha adaptada do viver. Infelizmente, o viver não lhe sorri como com as outras garotas, ainda pequena encontra-se num mundo onde a injustiça e o poder soberbo ganham destaque sem se importar com outrem, partindo da morte dos pais, as acusações por parte dos tios que a abrigam em sua casa, até os passos ao desconhecido rumo. O enredo, entre caminhos cruzados, difíceis, para se trilhar a vida, um mundo onde existe apenas duas regras em paradoxos: vida-morte ou viver-morrer.

I. Relação autora-leitores

Como será o amor de uma prostituta, digno de confiança? Ou mesmo o olhar à sua vida passada? Qual é o âmago da obra? O que tem para dar nos dar? A obra está recheada de questões que merecem atenção e respostas, partindo do prefácio apresentado pela escritora Helena Dias. Entre os vários cruzamentos, os enganos do mundo mostrou uma estrada que é ilícito, porém, por um lado, era a maneira de se manter viva e reservar a esperança no fundo do túnel.

A linguagem simples usada facilita na compreensão do enredo, nesta criação do jogo palavras-imagens-sons, a autora permite a imaginação do leitor, a narrativa é bastante fluente e nalguns casos, cheia de suspense e choque emocional, enviando reflexos a serem desvendados pelo leitor. Pode parecer utópico descrever que o amor de uma prostituta - a utopia surge por razões dos estigmas sociais - pode e é capaz de ser leal e sincero, em comparação a quem se acha santa, existe um tom de verdade na afirmação, embora a dificuldade de confiar no sentimento de uma, por questões da vida passada. Partindo de uma leitura do íntimo da obra, levar-nos-á reflectir nos diferentes viveres, na existência de uma história desconhecida guardada no baú de cada pessoa, não apenas aos que trilham na prostituição, mas nas drogas e outros naufrágios, logo, ouvir a versão individual é melhor do que simplesmente julgar, humanizar-se, colocando-se no lugar de outrem, meditar e reflectir na dor. Apesar das amarguras que lhe marcam a história de vida, ao final, a grande mulher revela ter a mesma essência, a mesma força da rainha Lunda, a mesma luz que os seus pais viam nela desde o nascimento - após as várias tentativas para a concepção -, pureza no ser e estar.

Analisemos com calma, o caminho em volta da obra, não surge por espontânea vontade - se bem que há quem o faça por prazer -, muitas personagens do mundo real e ficcional, foram trazidas ao mesmo mundo por pessoas de mentes desajustadas, algumas abraçam por necessidade, a luta pela sobrevivência; em "O amor de uma prostituta", independentemente do estado, a regra do mundo do tráfico é viver ou morrer, e muitas vezes a morte não se alcança, pois, as mais gostosas, por assim dizer, recebem um tratamento especial para se manterem sempre em forma e melhor facturarem, e sendo o viver o maior prazer, crendo num amanhã transformado, apesar da incerteza e das circunstâncias tenebrosas, sempre existe uma escolha. E, independentemente do factor, a prostituta também ama, deseja casar e ter uma família, realizar seus sonhos da vida, ser amada e cuidada por alguém, o mundo julga sem conhecer as causas, atiram pedras sem se importar com o estado da janela alma e com isso, aos poucos destroem uma vida que desejava ser curada.

Nhakatolo mostra que o seu amor é capaz de vencer o preconceito, ser ideal e digno, confiante, é preciso ser um bom Carlos para compreender, o que lembra-me o relato real de uma ex-prostituta, que actualmente é uma grande serva de Deus e dona de casa, pastora que já converteu muitas almas com as suas ministrações e partilha de experiência, relatara ter feito muita coisa antes do seu chamado.

2.3. Considerações finais - Terminando a nossa conversa

Cônscios de que nenhuma obra surge inutilmente, "O amor de uma prostituta" merece atenção, pois, no seu âmago, apela sobre o valor da essência humanista e do altruísmo, que sejamos como o Carlos, que ao invés de julgar, estejamos dispostos a ouvir, com calma e pensar justo aos factos, e sim, toda gente tem uma história para contar e conhecendo os traços do viver, a vida não sorri do mesmo jeito a todos.

Recomendo, vale a pena ler Flora Salvador!

Sandro Sebastião
Enviado por Sandro Sebastião em 26/06/2024
Código do texto: T8094431
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