A menina da Sexta Lua

 

A MENINA DA SEXTA LUA

Miguel Carqueija

 

Resenha do romance de fantasia “A menina da Sexta Lua”, de Moony Witcher. Editora Best-Seller, São Paulo-SP, sem data. Giunti Gruppo Editoriale, Florença, Itália, 2002. Título do original italiano: “La bambina della Sesta Luna”. Tradução: Terezinha Monteiro Deutsch. Ilustrações: Ilaria Matteini.

Moony Witcher é o pseudônimo da jornalista italiana Roberta Rizzo. Nina De Nobili, sua protagonista, parece uma emulação de Harry Potter. Entretanto, há diferenças. Nina não é bem uma bruxa: é uma alquimista, embora sua alquimia seja fantástica. Ela também tem o seu Voldemort: o mago Karkon, que utiliza os serviços de androides que fingem ser humanos.

Embora a história seja dinâmica e muito detalhista, exigindo muita atenção, há detalhes difíceis de engolir. Um deles é que, na luta contra o mago malvado, Nina conta com quatro amigos: Dodô, Cesco, Roxy e Flor (dois meninos e duas meninas), que são crianças e, como tais, deveriam ter família, hora de voltar para casa, escola, e no entanto passam dias seguidos acompanhando a heroína, sem dar qualquer espécie de satisfação às famílias ou serem procuradas. Isso é mais absurdo, por inverossímil, que os acontecimentos estapafúrdios por serem estes cobertos pela “suspensão da incredulidade”. A própria liberdade usufruída por Nina tem uma explicação ainda que mal-ajambrada: ela herda a mansão do avô russo em Veneza, onde ficaram as instalações alquímicas que ele utilizava. Misha, o avô, morrera em circunstâncias misteriosas e Nina torna-se alquimista em seu lugar, tendo dez anos de idade.

O argumento geral é bizarro: além do nosso universo normal existe um universo mágico, “onde tudo começou”, onde fica a galáxia Alquimídia (sic) e nela Xorax, a tal Sexta Lua do título. Misha deixou objetos mágicos, aposentos secretos e meios de comunicação com Xorax e Nina tem de aprender tudo, inclusive o alfabeto da Sexta Lua. Na mansão de Misha, situada na ilha Giudecca, moravam a governante Ljuba e o jardineiro Carlo. Nina, porém, faz o que quer e bem entende, mesmo sendo criança. E descobre que Karkon quer os poderes da Sexta Lua e foi ele quem eliminou Misha.

Quanto aos pais de Nina, são cientistas trabalhando na Rússia e por ora incomunicáveis por estarem em alguma pesquisa ultra-secreta.

Além da extravagância do argumento cheio de detalhes bizarros —Nina deve preparar seus cozimentos alquímicos em tempo preciso até os segundos — existe a incômoda sensação de materialismo. Pois parece que tudo no universo foi criado não por Deus, mas por forças alquímicas impessoais. Deus é mencionado uma única vez, na interjeição “Meu Deus!”

Entre os personagens, o gato e o cachorro de Nina, o robô Max e uma entidade chamada Etérea, que vive na Sexta Lua.

E Nina tem de lidar com problemas de endoidecer, porque as energias das crianças é que alimentam Xorax, apesar da distância, e Karkon, cujas motivações são obscuras, fazia tudo para sabotar a transmissão.

“Exigente e exata, Nina queria certezas. Agora que o avô não se encontrava mais ali, ela era a alquimista. Só ela poderia continuar o trabalho que estava sendo feito por Misha. Aproximou-se do Livro Mágico e, apoiando a mão direita sobre a folha líquida, formulou mais uma pergunta:

Livro, onde encontro o alfabeto da Sexta Lua?”

Nem Harry Potter tinha tanta responsabilidade, pois em último caso havia o experiente Alvo Dubledore para dar apoio.

É um romance interessante e original, mas cansativo, algo ilógico e se ressente de conceitos que se aproximam do ateísmo.

 

Rio de Janeiro, 21 e 22 de junho de 2024.