Vasto mundo - Maria Valéria Rezende
Vou-me embora pra Farinhada, lá sou amigo do padre Franz
Maria Valéria Rezende - Vasto mundo, RJ, Alfaguara, 2015
Mesmo que algumas das histórias de Vasto Mundo terminem com final infeliz, digamos assim, sempre fica o encantamento que a autora nos proporcionou antes ao apresentar uma narrativa cativante, um personagem singular, qualquer coisa assim que nos transporta para o interior nordestino ou melhor, da Paraíba, muito além daquele lugar que está na nossa cabeça, que é também um sítio imaginário povoado por prosa poética.
Poesia essa que o título já remete para Carlos Drummond de Andrade, para seu Poema de Sete Faces: ”Mundo mundo vasto mundo, / se eu me chamasse Raimundo / seria uma rima, não seria uma solução. / Mundo mundo vasto mundo, / mais vasto é meu coração.” Vasta é a imaginação de Maria Valéria Rezende, que no campo da poesia ainda se faz acompanhar da evocação de Manuel Bandeira e seu Vou-me Embora Pra Pasárgada, como quer um de seus personagens.
Falando neles, o mais cativante de todos é certamente o padre Franz, que tem um conto próprio em que nos é apresentado e também aparece nos demais, assim como outros personagens porque as histórias todas estão interligadas, em grande parte são circulares. E elas, os acontecimentos que encerram, parece que se dão num tempo um tanto indistinto, em que tanto alguém aparece usando computador quanto um outro ainda vive com luz de lamparinas à noite. E Farinhada, mesmo existindo num tempo e num lugar imaginários, indistintos, nesse vasto mundo que é a imaginação, diz muito aos nossos sentimentos, mente e coração, como a boa literatura é capaz de fazer.