Iaiá Garcia - Machado de Assis
Um bom livro mas um pouco distante da excelência das obras-primas do Machado da fase realista; numa escala de zero a dez, nota 7,0
Machado de Assis - Iaiá Garcia, Porto Alegre, L&PM Pocket, 2011
Mesmo antes que uma youtuber e escritora americana dissesse maravilhas a respeito de Memórias Póstumas de Brás Cubas (1881), a obra mais conhecida e admirada de Machado de Assis (1839-1908), eu tinha intenção de reler duas outras histórias dele de que pouco me lembrava, quase nada: Memorial de Aires (1908) e Esaú e Jacó (1904). Já havia relido Memórias..., Dom Casmurro (1899), Quincas Borba (1891), a novela O Alienista (1882) e lido todos os seus melhores contos.
Quer dizer, li e reli quatro ou cinco dos melhores livros de Machado e o que é que eu ia fazer agora da minha vida – como perguntava a youtuber no seu vídeo na internet, e aquele era seu primeiro Machado –, reler aqueles dois? Descobri então que os especialistas consideram Iaiá Garcia (1878) como o último livro da fase romântica do autor, então a caminho do realismo, daí que esta poderia ser uma boa leitura.
Foi uma boa leitura, sim, mas quanta diferença do Machado da fase madura, cheio de reflexão, ironia e humor (ainda que à inglesa, como se diz) que eu conhecia das obras-primas dele que li, para esse Machado que, ainda que não romanesco, se mostrou bastante romântico ao narrar a história de Lina (Iaiá) Garcia com suas várias reviravoltas e alguns revezes, mas que termina com final feliz senão não seria uma história romântica.
Que tem frases como esta: “não se dão conselhos ao coração que ama”, ou esta: “quando estimo alguém, perdoo; quando não estimo, esqueço. Perdoar e esquecer é raro, mas não é impossível; está nas tuas mãos.” Quer dizer, nas nossas mãos. Ou ainda esta: “Das qualidades necessárias ao xadrez, Iaiá possuía as duas essenciais: vista pronta e paciência beneditina, qualidades preciosas na vida, que também é um xadrez, com seus problemas e partidas, umas ganhas, outras perdidas, outras nulas.” Certo, assim é a vida não apenas dos personagens dos livros, também pode ser a nossa.
Mas a que me marcou como leitor desse Machado anterior a Memórias... foi esta: “Alguma coisa escapa ao naufrágio das ilusões”. Eu colocaria um “sempre” na frase, que ficaria assim: “Alguma coisa sempre escapa ao naufrágio das ilusões.” Alguma coisa sempre se salva mesmo na leitura de um livro [que eu considerei] pouco mais que mediano, desde que tenha sido escrito por Machado de Assis, claro.