As representações do Ser Humano
O livro "A águia e a galinha: uma metáfora da condição humana" de Leonardo Boff parte da premissa que "todo ponto vista é a vista de um ponto", ou seja, de que cada ser humano vai ter uma visão de mundo, um ponto de vista, uma perspectiva, uma filosofia de vida ou ideologia a partir das suas próprias experiências, conhecimento adquirido, assimilações percebidas e consciência própria daquilo que aprendeu, viveu, conviveu e interpretou.
Assim, para compreender a própria vida, o autor recorre a história da águia criada como galinha, de origem africana, mais precisamente de Gana, que consta a história de James Aggrey, em 1925, quando que numa floresta, um filhote de águia caiu do ninho da floresta e foi salvo e colocado por um camponês no galinheiro criado como se fosse galinha. Quando o camponês recebeu a visita de um naturalista, este disse que o pássaro era uma águia e não uma galinha. O camponês por sua vez disse que a águia foi criada como galinha e continuaria assim pelo resto da vida por causa da criação. O Naturalista o desafiou a verificar e constatar que a águia vai se auto descobrir águia e sair da condição de criação de galinha e o camponês aceitou o desafio. Houve duas tentativas frustradas por parte do naturalista, no chão e no teto da casa, que não despertou na águia sua essência de característica para voar. Na terceira tentativa, no alto da montanha, a águia olhou para o sol e seus olhos despertaram para um grande horizonte e voou, alcançando o mais alto do céu.
Ora, a história remete um lição de que o ser humano nasceu para ter consciência de prática histórica, mas que foi condicionado a ser "galinha", no sentido de aceitar "grãos", ou seja, esmolas e pequenas condições para viver, sendo que poderia ser mais, se despertar a própria consciência. O ser humano, assim como os hebreus, precisa passar por um processo de autorrealização, ou seja, de libertação, de ter a autoestima e perceber sua própria capacidade de superar os limites pela criatividade e se libertar das amarras do sistema sócio-cultural-econômico-político-religioso que lhe impõe.
Todo ser humano tem dentro de si a águia cativa que precisa ser libertada, o que requer um processo de conscientização, ou seja, de reconhecer sua realidade e complexidade, perceber o caos e o cosmos que existe em cada ser, e com isso, ser reflexivo e com sua dinamicidade, entender o próprio equilíbrio, até chegar na sua plenitude possível e se religar ao universo pela unicidade, de que tudo e todos são Uno, ou seja, um só, e de que tudo e todos são interligados. E para interligar o ser humano com tudo e com todos, a religião como re-ligação do exterior com o interior se efetua e se efetiva pela constatação de viver uma vida ética e moral, no sentido de tornar o ambiente saudável e numa relação com os outros e demais seres vivos de modo harmônico para viver plenamente "Ubuntu", ou seja, juntos, em conjunto, caminhando juntos, de modo sinodal.
Por outrora, viver com os arquétipos dentro dos seres humanos como águia e galinha ao mesmo tempo, necessita-se compreender esta dualidade da consciência para superar sua dicotomia e alcançar a visão de vida de modo muito maior que o mundo convencional e a sociedade aliena e manipula.
Cada ser humano para despertar seu ser Águia precisa escutar sua natureza interior, interligar o coração com a razão a fim de superar os desafios e a complexidade da realidade a fim de convergir o Ego externo com o Eu interno.
Voar para o alto rumo a infinito é o desejo da alma de cada ser humano que desperta sua consciência como sua voz interior, quando observa Deus dentro de si, assim como a Águia despertou seu ser dentro de s quando olha o sol, o que desperta sua verdadeira identidade.
Em relação ao coração, o amor incondicional é uma grandiosa descoberta dentro do ser humano para ter compaixão pelo próximo, a fim de fazer da própria vida um sentido e significado de razão da própria existência.
Ao desvendar e compreender os arquétipos que cada ser humano possui dentro de si, ele vai buscar viver uma vida com transparência, transcendência, imanência, de sintetizar a vida entre matéria e espírito, espiritualidade com materialidade e integração do Eu - Terra - Universo - Vida -Mmorte - Vida Eterna.
O livro de Boff é fabuloso, muito lindo, espetacular e fascinante na contextualização, no "midraxe hagadá" (conto histórico africano), na mensagem e na reflexão, que faz pensar sobre a nossa condição humana, e em qual nível estamos, e se despertamos para o grande centro numinoso (radiante) da vida que é o Deus cósmico dentro do nosso interior, que nos faz sair do nosso centro egocêntrico para despertar o Eu Verdadeiro e Cósmico. Recomendo totalmente e plenamente o livro "A Águia e a Galinha" como reflexão e despertar da própria consciência transcendente.