QUEM PARIU MATEUS, QUE LUTE!

REFLEXÕES SOBRE MULHER, MATERNIDADE E FEMININO FERIDO E OS IMPACTOS DISSO TUDO NA SAÚDE MENTAL DE MÃES E FILHOS

O livro, de autoria da cearense Maria Celça, expõe a história de Maria Rosa, personagem (e narradora) que ao longo de sua existência sente na pele como é difícil ser mulher em uma sociedade patriarcal em que resiste a atribuição de determinados rótulos e papéis a esse gênero. Seus dramas atravessam a infância, a adolescência e a alcançam na fase adulta, sendo a maternidade o momento mais difícil de sua vida, uma vez que nossa protagonista é “mãe solteira” (mãe solo). Não bastasse o abandono do pai de seu filho, de quem a identidade é mantida em segredo por 18 anos, Maria Rosa sofre também o abandono da família, especialmente por parte de sua mãe, que se nega a ajudá-la, sob a alegativa “quem pariu Mateus que balance”. O que se concebe, naquele contexto familiar, é que ter um filho e criá-lo sozinha é uma forma de aprendizagem e de reparação do “erro”.

Após anos de uma vida de esforço e sacrifício, o que incluiu a responsabilidade de criar o filho sozinha, a mulher se reconhece incapaz de enfrentar seus problemas emocionais e decide procurar ajuda profissional. Assim, relatando o teor das sessões com a psicoterapeuta, Maria Rosa vai nos envolvendo em suas vivências, regressos ao passado e mergulhos profundos em memórias dolorosas. As situações verbalizadas permitem o entendimento de que a cura se dá, efetivamente, por meio da palavra. Maria Rosa entende, enfim, que o silêncio foi seu maior erro. E assim vão sendo identificados traumas que interferem no seu comportamento e dificultam o seu sonho de ser feliz. A partir do autoconhecimento, um tanto doloroso, ela luta para ressignificar marcas do passado, saindo da posição de vítima e assumindo seu lugar no mundo, como a mulher que é, livre de angústias.

Essa representação feminina nos faz refletir sobre o papel da mulher na sociedade, sobre culpa, sobre a responsabilidade que o ser mãe implica na vida das mulheres, tantas vezes solitárias nesse momento. Por meio da história de Maria Rosa, podemos entender ainda o papel daquelas que nos antecederam, mulheres igualmente marcadas, parte de um jogo cruel que discrimina e torna difícil a vida das mulheres. Abrem-se, assim, novos espaços para discutirmos o empoderamento feminino, o autocuidado e, principalmente, o autoperdão. E também para trazermos à tona a isenção assegurada aos homens nas relações, sobretudo quando a mulher engravida e é intitulada "mãe solteira", sem que ninguém reivindique direitos dos "Mateus" e de suas mães, deixando livres homens que “abortam” para não assumirem suas responsabilidades.

Esse livro representa, ainda, fomento à discussão sobre a maternidade enquanto momento único na vida da mulher, que reverbera socialmente. Criar e educar um filho, nunca deveria ser o castigo para quem “errou”. E mulher nenhuma deveria se sentir sozinha nesse momento, em que, na verdade, precisamos de uma rede de apoio, inclusive emocional, para darmos conta da responsabilidade tamanha que é colocar um filho no mundo. É preciso considerar o contexto familiar de feminino ferido, desamparo e abandono em nível de sociedade, pois é nela que vemos refletidos os problemas nas relações, que começam em casa.

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Maria Celça
Enviado por Maria Celça em 11/05/2024
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