Cidades da planície - Cormac McCarthy
Os últimos caubóis...
Cormac McCarthy - Cidades da planície, SP, Companhia das Letras, 2001
O volume finaliza a Trilogia da Fronteira, obra de Cormac McCarthy (1933-2023), de que fazem parte Todos os Belos Cavalos e A Travessia. Como estes dois, encerra certa tensão entre americanos e mexicanos, que muitas vezes pode culminar em violência e morte. Desta vez, no entanto, não são cavalos roubados de uma fazenda nem o espírito aventureiro dos jovens americanos a conduzi-los para aventuras e desventuras no país vizinho.
Em terras mexicanas o peão John Grady Cole se apaixona perdidamente por uma jovem prostituta doente. Seu amigo Billy Parham tenta dissuadi-lo desse envolvimento, ainda mais que Magdalena também é cobiçada por seu cafetão mexicano, Eduardo, a quem está presa por dívidas. Em inúmeras ocasiões Billy pede ao amigo quer desista da garota, sabe que as coisas podem terminar mal para Cole, mas este não lhe dá ouvidos. No entanto vai ajudá-lo mais à frente, quando o amigo tenta comprar a liberdade de Magdalena.
Quem leu os outros livros da trilogia pode imaginar como este vai terminar: na morte de alguém, claro. E não teremos apenas um cadáver desta vez. Mas antes que isso ocorra acompanhamos uma história narrada de modo oblíquo, fragmentado, mais ou menos como se estivéssemos lendo um William Faulkner do sudoeste americano (a escrita de McCarthy já foi comparada por críticos literários à do grande escritor sulista).
Estamos nos anos iniciais da década de 1950, ecos da guerra na Europa ainda são ouvidos através da conversa dos protagonistas, que tanto montam cavalos quanto utilizam caminhões e automóveis para locomoção e serviços. Mais do que em pastos, campos e fazendas, como o próprio título aponta, esta é uma história sobretudo urbana, passada em cidades fronteiriças.
O que parece não mudar muito é a cultura dos caubóis que trabalham como domadores de cavalos nas fazendas, feito Cole, Billy e outros peões. Também cuidam das cabeças de gado, claro. As coisas entre os homens são ditas com poucas palavras, as frases são curtas e nem sempre são pronunciadas completamente, mas eles se entendem assim mesmo, por vezes através de resmungos e olhares apenas. É um mundo próprio, à parte, que será modificado para sempre para Billy e Cole a partir do momento em que este último se envolve com Magdalena.
Confesso que senti grande desconforto ao ler Cidades da Planície, se bem que os outros dois volumes também contém cenas bastante violentas (os demais livros de McCarthy que li também: Meridiano de Sangue e A Estrada). Não apenas por conta da briga fatal entre os homens como consequência da malograda fuga de Magdalena do prostíbulo, também por uma caçada aos cães selvagens que matavam os bezerros do fazendeiro para o qual trabalhavam os jovens caubóis. Enfim, ninguém lê impunemente uma história narrada por Cormac McCarthy.