Pornô chic - Hilda Hilst
Véia safada era o que ela era
Hilda Hilst - Pornô chic, RJ, Biblioteca Azul, 2014
Com Pornô Chic a escritora Hilda Hilst (1930-2004) fez literatura ou pornografia? As duas coisas, mas logicamente que ela privilegiou a arte e não a obscenidade. É verdade que choca um pouco a crueza de certas situações que ela nos conta ou a abundância (epa!) de palavrões que ela emprega. Sim, eles são abundantes, escandalosos, cabeludos, safados.
Como diz a certa altura uma de suas personagens participando de uma historieta rural, um “pornô-jeca”, como a autora chamava: “Hirda Hirste, [...] essa véia é safada.” E põe safadeza nisso especialmente quando a autora conta aquela que deve ser, para muitos leitores, a melhor das histórias do livro, O Caderno Rosa de Lori Lamby. E certamente a mais safada (ou chocante, depende), pois a personagem é uma incrível menininha sobre quem o sobrenome diz muito...
Podemos ficar espantados com certas coisas que Hilda Hilst diz, conta ou imagina. Mas nos divertimos demais com tudo isso. E ainda tem, de verdade, o caso envolvendo ela mesma, o famoso ator hollywoodiano Marlon Brando e um ator francês que seria o namorado dele. Caramba! Eu sempre pensei que Brando fosse um símbolo sexual masculino irretocável.
Por que ler Hilda Hilst? Não dá para levar tudo a sério em matéria de literatura, ler o tempo todo escritores altamente intelectualizados que, por vezes, nos dizem muito pouco da vida em suas várias facetas. Especialmente vivendo num país pornograficamente corrupto como o Brasil que teve como presidente alguém que em vez de fazer um elogio à loucura (como Erasmo de Rotterdam) ou coisa parecida, fez o elogio da mandioca. E não me lembro se isso foi antes ou depois dela pensar em estocar vento...
Certamente, se estivesse viva, Hilda Hilst tinha – ou teria - uma boa história para contar sobre esse tubérculo de duplo sentido. Muito mais útil para a vida dos brasileiros do que uma “mulher sapiens” na presidência da república, como a que tivemos. Ou um abestalhado terraplanista. Perigoso, ainda por cima. E desde 2023 temos o descondenado... melhor parar por aqui que é muita pornografia num mesmo parágrafo.
Salve, Hilda!