Frugal, frugal, frugal: quem são os verdadeiros milionários americanos

(Eles vivem muito abaixo dos seus meios)

Uma crença inconsciente falsa foi desvelada por um estudo acadêmico nos EUA.

A maioria dos indivíduos comuns do mundo guarda a crença, baseada nas aparências, de que os ricos de verdade são os que possuem e exibem propriedades materiais vistosas, mantidas por um exército de serviçais variados. O estudo, feito por dois professores universitários americanos, Thomas J. Stanley e William D. Danko, e mostrado no seu livro "O Milionário Mora ao Lado" (*), teve por base uma longa pesquisa levada a efeito por duas décadas, feita para saber o verdadeiro perfil dos milionários dos EUA (os que possuíam mais de um milhão de dólares). E o resultado da pesquisa revelou-lhes uma grande surpresa. Constataram que a maioria dos milionários de seu país, por sinal o mais rico do mundo, nada tinha a ver com a imagem glamourizada pela mídia e que o senso comum normalmente faz de quem tem riqueza, associada à ostentação e a grandes gastos. Apuraram que a maioria dos milionários, longe de ser representada por pessoas que ostentam mansões, carros de luxo e roupas caras, é constituída de pessoas simples, com um estilo de vida frugal, morando em casas modestas de classe média e dirigindo carros comprados usados. Nunca compram carros zero e ainda pechincham na hora da compra do usado. Não frequentam lojas de grife e clubes de campo, nem têm intimidade com alimentos e bebidas caros. Os pesquisadores perceberam essa contraintuitiva relação deles com a comida cara quando, contratados por uma grande companhia internacional de crédito fiduciário, organizaram uma reunião para sua primeira entrevista com alguns decamilionários (milionários com mais de dez milhões de dólares). Viram, chocados, que o caro bufê contratado, contendo caviar e vinhos Bordeaux de alta qualidade, mal foi tocado por eles (apenas as torradas foram consumidas).

Outra surpresa que tiveram foi a constatação de que esses milionários frugais, na verdade, têm normalmente um patrimônio líquido maior do que o dos milionários exibicionistas que ostentam mansões e carros de luxo. A explicação lógica para essa diferença patrimonial está no estilo de vida que cada um desses dois tipos de milionários ostenta. Os milionários com mansões, carros de luxo e roupas de grife têm despesas fixas altas e improdutivas, como os salários de empregados de que precisam para manter suas mansões e dirigir seus carros, mensalidades de clubes de campo e escolas de elite para os filhos, além das despesas frequentes destinadas à troca anual do carro, à renovação do vestuário em lojas caras e às férias em locais longínquos. Os valores exorbitantes de tais despesas improdutivas, além de nada acrescentarem ao seu patrimônio, ainda o dilapidam. Já tais valores, que são economizados pelos milionários frugais por não terem essas despesas, são empregados por estes em investimentos financeiros e produtivos que tendem a multiplicar seu patrimônio.

É a diferença entre o comportamento habitual contido dos milionários frugais e o comportamento habitual perdulário dos milionários exibicionistas o fator decisivo que determina o maior patrimônio dos primeiros em relação aos últimos. Como caso emblemático, os pesquisadores encontraram entre os milionários frugais um casal de bombeiros, que conseguiu chegar ao seu milhão de dólares somente com o comportamento frugal e combinado dos dois cônjuges. São, como o livro de forma feliz e certeira os qualifica, os que “vivem muito abaixo dos seus meios”.

* STANLEY, T. J., e DANKO, W. D. "O Milionário Mora ao Lado". Tradução de Isa Mara Lando. São Paulo: Editora Manole, 1999.