CONCEPÇÃO E MUDANÇAS NO MUNDO DO TRABALHO E O ENSINO MÉDIO INTRODUÇÃO

CONCEPÇÃO E MUDANÇAS NO MUNDO DO TRABALHO E O ENSINO MÉDIO

INTRODUÇÃO

Este trabalho, trata-se de uma Resenha Crítica solicitada pelo Professor Formador

Celso Luiz De Freitas Dantas como avaliação parcial do componente curricular Estágio Supervisionado em Matemática III – 2023.2 do 7º período do curso de Licenciatura em Matemática – 2020.1 da Universidade Estadual da Bahia – UNEB. Trata-se de uma Resenha Crítica do texto “Concepção e Mudanças no mundo do trabalho e o ensino médio” de autoria do Professor Doutor em Ciências Sociais – Educação Gaudêncio Frigotto, na época professor Visitante Titular na Faculdade de Educação do Estado do Rio de Janeiro – programa de pós-graduação em Políticas Pública e formação humana.

Membro do Conselho Latino Americano de Ciências Sociais (CLACSO). Neste artigo, Frigotto faz uma análise do trabalho como criação do ser humano e sua relação com a sociedade de classe, neste sentido procura contextualizar a globalização ou mundialização do capital apresentando sua estrutura, e como estes fatores influenciam a educação básica de nível médio e nível médio integrado associada ao mundo do trabalho e

do emprego na produção. O artigo a intenção de, através da apresentação desta análise, “desconstruir concepções e práticas que refuncionalizam as estruturas que geram a desigualdade e o de construir concepções inerentes a uma práxis capaz de transformar as relações sociais vigentes na sociedade e nos processos educativos”.

DESENVOLVIMENTO

Frigotto, traz a discussão sobre o "Trabalho na sua dimensão ontológica ou ontocriativa”, ou seja, o trabalho não se resume ao emprego em função do capital, mas a todo o processo de produção necessário para atender todas as dimensões da vida humana, sendo uma atividade que procura atender todas as necessidades para a preservação da sua vida biológica, portanto corresponde às suas necessidades “culturais, sociais, estética, simbólica, lúdica e afetiva”, necessidades estas que ocupam uma função no tempo e no espaço. Assim, o trabalho é uma parte essencial no existir do homem, ele nasce para o trabalho, pois é através dele que sobrevive, sem o trabalho o homem é incapaz, devido as suas condições limitadas atender as suas necessidades, sejam sociais ou biológicas, entre outras. Esta discussão é importante para se afirmar que o trabalho não se resume a venda da sua força aos detentores do capital, ou seja, só trabalha quem está inserido no mercado de trabalho, seja formal ou informal, o trabalho vai muito além, pois, como já foi dito ele faz parte de toda a dimensão da vida humana. Desde os primórdios da humanidade, o ser humano procura diminuir o tempo

empregado para garantir a sua sobrevivência ou as necessidades socioculturais para obter uma quantidade de tempo livre, o que lhe garantiria dispor de um maior tempo de trabalho criativo, neste sentido o homem procura superar as relações sociais capitalista com o objetivo de aumentar o seu grau de liberdade, assim o homem distribui sua força de trabalho entre atender as suas necessidades biológicas e a sua liberdade, mas este tempo livre não quer dizer que é um tempo sem trabalho, a vida humana é uma vida forjada pelo trabalho, a questão está entre o tempo em que esta força de trabalho é vendida e o tempo em que esta força de trabalho é utilizada para o processo livre de criação e recriação. Neste sentido, o autor traz a questão de que se faz necessário educar o homem para o trabalho, pois o trabalho é essência do ser, assim o trabalho é considerado como o princípio educativo. No entanto com a revolução capitalista o trabalho passou a ser considerado uma

mercadoria, o homem é obrigado a vender a sua força de trabalho para garantir a sua subsistência, abrindo mão de sua liberdade, a humanidade passa a ser dividida entre aqueles que detém de forma privativa o capital e aqueles que são obrigados a vender sua força de trabalho para garantir a sua sobrevivência. Sob o capitalismo o trabalho passa a ser uma mercadoria empregada para atender as necessidades dos detentores do capital que auferem seu valor de acordo com os seus objetivos de lucro, deste modo o trabalho deixa de ser uma ação para se obter valores livremente escolhidos pela classe trabalhadora, pois o seu valor é atribuído por quem detém o capital e os meios de produção e não para atender os valores de quem produz.

Com a Globalização, as relações entre capital e trabalho ultrapassaram o ambiente

territorial, se antes o homem vendia sua força de trabalho em troca de bens necessários para sua sobrevivência, produzindo bens que atendiam suas necessidades, ou seja, embora não tivesse o suficiente ele estava produzindo parte do que consumia, com a globalização esta relação entre trabalho e meios de produção foi modificada, o trabalhador passou a produzir para fora de seu ambiente territorial, ou seja, deixou de produzir produtos essências para a sua sobrevivência para produzir bens de exportação que atendiam um mercado longe de seu ambiente, desta forma, não só o trabalhador passou a vender sua mão de obra para alienígenas como toda a sociedade em que ele está inserido passou atender aos interesses do capital interesse, assim além de um trabalhador que vendia sua força de trabalho por um valor inferior a que produzia, toda a sua comunidade passou a servir o interesse de outros, promovendo não só a pobreza do indivíduos, mas a pobreza de sua nação. Neste contexto a educação básica surge numa função estratégica para a construção

de uma nação soberana, pois somente através de uma educação de qualidade voltada para o trabalho criativo, o trabalho que vá além das necessidades básicas, ou seja o trabalho que produza valores para o trabalhador, atendendo suas necessidades culturais, sociais, política e econômicas é capaz de tirar uma nação de sua situação subalterna frente as outras nações. Frigotto, traz uma discussão muito importante sobre o mundo do trabalho e o ensino médio, é tema pacífico que o trabalho faz parte dos princípios educativos, pelo menos no que se refere a constituição de 1988 que em seu artigo 205. afirma que “A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho”.

Neste sentido, quando o tema é qualificação para o trabalho, o Ensino Médio assume uma relevância preponderante, pois é nesta idade ou neste momento educativo que o cidadão e a cidadã começa a dar forma ao seu projeto de vida e é evidente que não existe uma perspectiva de futuro sem se refletir sobre o mundo do trabalho, sobre uma profissão na qual a pessoa se insira, portanto é neste momento que se deve procurar desenvolver as competências e habilidades para o trabalho. No entanto, faz-se necessária uma discussão sobre a relação entre trabalho e

educação, e é neste sentido que Frigotto traz a dimensão formativa tanto do trabalho quanto da educação, que tem em comum o desenvolvimento das potencialidades do ser humano, neste sentido ele traz as concepções ontológica ou ontocriativa do trabalho, que “é um processo que permeia todo o ser do homem e constitui a sua especificidade”, no entanto a concepção de trabalho não se resume a 'atividade laborativa ou emprego,' mas à produção de toda a extensão da vida humana. (Kosic, 1986), ou seja, o trabalho faz parte do processo de formação de todo homem e de toda mulher, pois é inerente ao ser humano na sua relação com o meio ambiente em que ele está inserido, na sua relação com a natureza e as suas necessidades biológicas e culturais, viver é está em constante movimento, é interagir e extrair do meio ambiente tudo que é necessário para sua sobrevivência, em todas as dimensões de um ser, não só biológicas, mas, principalmente sociais, pois o homem um dos seres mais frágeis da natureza sobreviveu devido as suas relações sociais. Então desde o principio da sociedade humana, o trabalho foi visto como algo próprio do ser humano, e desde a sua mais tenra idade o homem e a mulher foram educados para o trabalho, pois sem esta ação consciente e efetiva na sua relação com a natureza, não havia como sobreviver.

No entanto esta relação tão natural do ser humano, foi aos poucos se transformando, principalmente, devido as formas em que o trabalho vai ganhando com o aumento da complexidade da vida em sociedade, chega um momento em que o ócio passa a ser considerado um produto de valor e um sinal de liberdade, desta forma o trabalho passa a ser visto como escravidão e o ócio como sinônimo de liberdade, neste sentido, trabalhar era coisa de escravo e não de um indivíduo livre. Com o feudalismo, a escravidão dá lugar a servidão, o que, simbolicamente, ganha

um sentido diferente, pois todos os homens passam a ser “livres”, mas na prática é a mesma coisa, o servo vive nas mesmas condições sociais do escravo e o trabalho, ainda considerado algo indigno, passa pelas mesmas mãos, só que com nomes diferentes. E aí, Frigotto chega ao capitalismo que substitui o feudalismo, muda-se as estruturas sociais, agora o senhor é quem detêm o capital, é quem controla os meios de produção e o trabalho passa a ser realizado pelo proletário, que vive numa relação de trabalho diferente do escravo e do servo, mas na mesma condição social, o escravo, o servo e o proletário realizam os mesmos trabalhos e vivenciam uma “mesma” situação social, respeitando as ressalvas. E é

baseado nos princípios capitalistas que a educação passa a ser moldada. O indivíduo é “educado” para o trabalho, mas não o trabalho ontológico ou ontocriativo, mas o trabalho na produção do sistema capitalista, o indivíduo não é educado no trabalho para superar os desafios da natureza, o indivíduo não faz parte do processo criativo do mundo do trabalho, o indivíduo é ensinado a cumprir determinada função nas relações de produção capitalista. No entanto, até determinado momento os indivíduos fazem parte de um sistema

produtivo regional, de certa forma ele participa de uma produção de elementos comuns ao seu dia-a-dia, assim ele é uma engrenagem de um sistema que gera recursos comum a sociedade em que ele está, assim, o trabalho ainda é visto como algo que possibilidade a construção de uma sociedade, mas com a globalização esta relação entre produção, cultura e sociedade é rompida, o indivíduo passa a fazer parte de um meio de produção, ele passa a produzir para outras sociedades, aqui o mundo do trabalho se descaracteriza totalmente, não se educa mais para o trabalho, mesmo servindo aos interesses do dono capital, em sociedade, educa-se para atender interesses do capital alienígena, não é mais a construção de uma sociedade, é o trabalho alienado aos interesses do capital e a formação educativa se dá para atender estes interesses. E é aqui que Frigotto, traz uma necessidade de uma releitura da educação no ensino

médio, ou seja, atendendo os princípios da constituição de 1988, de educar para a qualificação para o trabalho, mas desenvolvendo as competências e habilidades para o trabalho ontológico ou ontocriativo, para atender as necessidade do ser humano em toda a sua integridade, atendendo toda a dinâmica do ser, possibilitando que o indivíduo viva em liberdade para o trabalho e não o ensino médio voltado para atender os interesses dos que controlam o capital, não para o trabalho como condição de escravo, servo ou proletário, mas para o trabalho que dignifica a condição o humana, que possibilita ao homem e a mulher ser um sujeito ativo da sua história.

CONCLUSÃO

O texto traz uma verdadeira análise da relação de trabalho numa sociedade

capitalista, apresentando a importância de se entender o trabalho não como um emprego da força produtiva em um determinado meio de produção, mas entendendo o trabalho como a construção de valores individuais e que atendam todas as dimensões da vida humana. Traz a questão da importância do trabalho para a sobrevivência da espécie humana, apresenta o trabalho como algo inerente ao homem e que precisa ser visto como vital e, portanto, todo o indivíduo tem que ser educado para o trabalho, no entanto, esta educação não deve estar voltada, apenas, para o mercado, pois este só atende uma parte das necessidades humanas, que são as necessidades biológicas, este trabalho deve ser direcionado para a construção de valores culturais, sociais, políticos e econômicos, assim a escola básica, em especial o ensino médio não pode está refém do mercado, a sua atuação não pode estar a serviço do capital e sim na preparação do indivíduo para a vida em sociedade, preparando o indivíduo, enquanto trabalhador, para ocupar todos os espaços da vida social, de forma a construir valores que possibilitem a construção de uma vida plena, onde todas as necessidades da vida dinâmica de um ser, seja atendida.

REFERÊNCIAS FRIGOTTO, Gaudêncio. CONCEPÇÃO E MUDANÇAS NO MUNDO DO TRABALHO

E O ENSINO MÉDIO. CETEP – Centro de Educação Tecnológica do Estado da Bahia. In: Ensino Médio Integrado: Concepção contradições. São Paulo, editora Cortez, 2005.

Fernando Rocha da Costa
Enviado por Fernando Rocha da Costa em 24/03/2024
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