"A solução de Ceres"

 

“A SOLUÇÃO DE CERES”

Miguel Carqueija

 

Resenha do romance de ficção científica “The Ceres solution” (A solução de Ceres)m de Bob Shaw. Livros do Brasil, Lisboa-Portugal, sem data. Capa: A. Pedro. Tradução: Eurico Fonseca. Coleção Argonauta 306, “copyright” 1981 de Bob Shaw.

 

Livro de bolso da maior coleção de FC em língua portuguesa, segue este romance alguns clichês comuns no gênero, não necessariamente animadores. A humanidade terrestre sendo manipulada por raças alienígenas que não se mostram, num universo materialista onde a religião, de fato, não tem importância alguma a não ser talvez para atrapalhar. Infelizmente muitos autores modernos de ficção científica derivam para o materialismo.

Nada sei sobre Bob Shaw, mas este romance é enfadonho e gira em torno de poucos personagens, terrestres e “mollanianos”. Estes são manipuladores do universo. Um deles, o tal de Vekrynn tye Orltha, é o Guardião da Terra “havia milhares de anos” e convoca Gretana Ty Iltha a uma missão, sob disfarce, em nosso planeta, onde ela acaba conhecendo Denny Hargate, jovem que sofre de neurite periférica múltipla e não tem o movimento das pernas, e se interessa por ele. Também conhece Lorrest, um rebelde de Mollan, que tem consciência da maldade que existe na manipulação das raças que seu planeta pratica.

O título do livro refere-se ao grande asteroide Ceres, que é desviado de sua órbita para colidir com a Lua e destrui-la — e isso é apresentado como uma “solução” para os problemas descritos.

Gretana, já se adivinha, irá aos poucos mudando e desacreditando da pureza de intenções do governo de seu mundo.

Mas é uma novela muito sem pé nem cabeça e de mensagem rasa, que não consegue convencer. Aliás, os autores das últimas décadas inclinam-se muito para visões exorbitantes e com uma complexidade muito artificial, para mim é um exercício de paciência ler até o fim.

“Na confusão que se seguiu à sua chegada à Estação 23, Ichmo não tinha aprofundado as razões do regresso dela, e agora ela olhava a informação como um trunfo que devia ser jogado no momento mais vantajoso. Por detrás da sua preocupação quanto ao futuro estava a questão do que devia ser feito com o pobre terreno.”

As viagens interplanetárias eram feitas por teleporte e Gretana, voltando ao seu mundo, trouxera David junto por compaixão, salvando a sua vida mas cometendo uma espécie de crime, pois a humanidade de Mollan, cujos membros podiam viver muitos séculos, não se revelava aos povos manipulados. Portanto a história focaliza a conscientização de Gretana, que custa a acontecer.

O romance é válido dentro do gênero, mas nesse tipo de situação — do personagem que começa a questionar o sistema — “Os mercadores do espaço”, de Frederik Pohl e C.M. Kornbluth, é bem superior.

 

Rio de Janeiro, 20 de janeiro de 2024.