Sobre "Nós e a Natureza"
SOBRE “NÓS E A NATUREZA”
Miguel Carqueija
Resenha do livro “Nós e a Natureza” (“O romance da Física”), de Paul Karlson. Editora Globo, Porto Alegre-RS, 2ª edição, 4ª impressão, 1958. Tradução de Marina Guaspari. Título original alemão: “Du und die Natur”.
Com aproximadamente 270 páginas, “Nós e a Natureza” é um livro bizarro de divulgação científica, cuja primeira edição data de abril de 1941. O autor vai dando explicações sobre a Física e sua evolução, as teorias que foram surgindo, mas ao mesmo tempo conta histórias com diálogo e tudo, além de muitas ilustrações e algumas pranchas.
Divide-se em seis partes: Matéria, Eletricidade, As ondas luminosas, Teoria da Relatividade, “Quanta” de luz e As novas teorias.
O método utilizado pelo autor é algo cômico e pode até, quem sabe, causar irritação nos leitores, por conta de uma certa infantilidade no estilo.
Vejamos um pouco do diálogo sob o título “Experiências fundamentais”:
“Temos, assim, duas partículas elétricas elementares, de carga igual e contrária, mas de peso diferente (1:1840).
“Essa era a opinião oficial até 1932. Nesse ano, Anderson descobriu em Chicago o elétron positivo, uma partícula elementar, carregada de eletricidade positiva e, como o elétron, de peso igual a 1840ª parte do próton.
“A princípio ninguém prestou crédito ao sábio. Atualmente, porém, já não subsiste a menor dúvida: há elétrons positivos, os “posítrons”, eletricidade positiva pura, livre da matéria, como o requer a nova teoria verdadeiramente herética e empolgante de Dirac, na Inglaterra. Mas isto fica para mais tarde.
— E que fez do seu compêndio de física? Deitou-o fora?
— Risquei com tinta encarnada o advérbio “constantemente” e escrevi acima dele a locução “de ordinário”. Assim, aquela frase conserva-se ainda verdadeira.
— Ah! Eis como estão as coisas atualmente: a eletricidade é uma espécie de substância...”
É mais ou menos assim o livro todo, até com passagens de puro surrealismo; assim nas páginas 18 e seguintes tem até um conto de ficção científica com o cientista da vida real Ernesto Rutherford. Ele recebe duas caixas cheias de prótrons e elétrons recém-saídos da fábrica (sic), os prótrons pintados de preto e os elétrons de branco. E começa a fazer experiências com esses prótrons e neutrons visíveis e palpáveis.
Apesar de tudo o livro é muito interessante se você puder se acostumar com essa forma jocosa de ensinar Física, pois tem inclusive informação sobre a contribuição de grandes cientistas como Coulomb, Faraday, Newton, Maxwell, Lorentz, Einstein e muitos outros.
Rio de Janeiro, 2 de dezembro de 2023.