Em má companhia - Vladimir Korolenko
Livro de Korolenko é uma ótima companhia para essa época do ano, em que os bons sentimentos afloram em todos nós com mais intensidade
Vladimir Korolenko - Em má companhia, SP, Carambaia, 2016
Cerca de cinco anos atrás tomei contato com a obra do escritor ucraniano Vladimir Korolenko (1853-1921) pela primeira vez, quando li a sensível e delicada história de um menino deficiente visual O Músico Cego, que também era uma obra não muito extensa. Menor ainda em número de páginas é este Em Má Companhia (120 páginas), que me pareceu mais uma novela do que outra coisa, quase um conto mais extenso.
Como naquela obra, aqui também não faltaram sensibilidade, delicadeza, empatia e compaixão, sentimentos nobres que transitam por quase todas as páginas. Por conta do tratamento que Korolenko deu aos seus personagens, suas crianças, os pobres irmãos Valek e Marússia – as “más companhias” entre outros, exatamente por serem pobres – e Vássia, o narrador, menino solitário mas altruísta, órfão de mãe e filho de um juiz, portanto, gente de bem, digamos. Pai que nunca lhe deu muita atenção, menos ainda depois que ficou viúvo. Quando os três pequenos ficam amigos a história cresce, fica mais emocionante, interessante.
O posfácio, escrito pela professora de literatura russa da USP, Elena Vássina, é longo mas é bastante útil, informativo, aprendemos um bocado sobre Korolenko, suas ligações com importantes escritores russos, como Tchekhov, Tolstoi e Gorki, autores que como ele tinham uma “posição política profundamente humanista.” Mas o sofrimento de seus pequenos dialoga um tanto com os escritos de Charles Dickens, que também tinha um olhar especial para as crianças, especialmente aquelas que sofriam por algum motivo, quase sempre devido aos maus tratos praticados pelos adultos, pelo menos nas obras que li dele.
Impossível não ficar tocado por certas passagens de Em Má Companhia, especialmente quando a garotinha Marússia fica doente e Vássia lhe leva uma bela boneca de Sônia, sua irmã, na tentativa de minorar o sofrimento da pequena. O que vai causar um problema para ele quando o severo pai descobre o desaparecimento da boneca. Situação que, por outro lado, vai conduzir a história para outro patamar. E aí já estamos bem no final do livro. Que se não provoca lágrimas, ao menos nos deixa meio que com o coração na mão, modo de dizer. Porque aqui há um bocado de sentimentos que nenhuma sociedade pode abdicar deles em qualquer tempo, especialmente misericórdia e compaixão. E com isso temos um triste, mas belo final, redentor.