Dublinenses - James Joyce
Dublinenses é uma coletânea de quinze contos que retrata a vida cotidiana da agitada Dublin do começo do século XX. Neste livro de James Joyce, a capital irlandesa pode ser considerada a personagem principal de cada conto, visto que, por meio de uma escrita cheia de inovações técnicas, muito característico das tendências literárias que estavam em voga na Europa (Modernismo), a cidade, quando não mostrada de um ponto de vista espacial através das andanças de seus protagonistas, está impregnada nos mesmos, afinal, os personagens, como em um grande retrato de costumes, nos revelam as idiossincrasias políticas e religiosas, já que, na época na qual se passam as cenas, a Irlanda ainda estava sob domínio da Inglaterra, tendo os conflitos entre a igreja católica e protestante bem frisados pelo autor.
A escrita de Joyce é realista, e assim como Balzac, um dos primeiros realistas europeus, o futuro autor de Ulisses e Finnegans Wake quis fazer da sua Dublin a Paris do escritor francês, que a mais de meio século após sua morte ainda continuava uma grande influência para os poetas e artistas da tinta e do papel.
A complexidade das relações humanas é habilmente explorada em um mergulho dentro da mente dos personagens. A técnica do fluxo de consciência estava ganhando seus primeiros experimentadores e James Joyce era um dos autores que estavam explorando este recurso literário que também chegou nas terras tupiniquins, tendo em Guimarães Rosa e Clarice Linspector nossos maiores expoentes.
A epifania, isto é, arroubos que emergem do fundo da alma, em uma espécie de descoberta filosófica ou espiritual, é um ponto de grande destaque nos desfecho dos contos Joycenianos, o que pode ser visto da forma mais magistral no conto que encerra o livro, intitulado Os Mortos, quando o protagonista Gabriel é acometido por um abalo psicológico depois da confissão da sua esposa após o retorno da festa na casa das tias. Este último conto foi adaptado para o cinema por John Houston, e acabou sendo o último trabalho do diretor americano, que em uma carreira vasta, já havia filmado Freud, Além da Alma, no início dos anos 60, em parceria com Sartre, que havia escrito o roteiro do longa.
Dublinenses é um daqueles livros que valem cada linha, cada segundo percorrendo a alma e as ruas de Dublin. Ah, Irlanda, abençoada seja esta terra por nos legar nomes como Oscar Wilde, Samuel Beckett, Bernard Shaw e este grande inovador linguístico chamado James Joyce.