A ABADIA DE NORTHANGER
[...] Quando o relógio soasse as 12 badaladas e tudo estivesse calmo, ela sairia sorrateiramente do quarto – e iria olhar tudo uma vez mais, caso a escuridão não a amedrontasse. Mas, quando o relógio deu meia-noite, Catherine já estava dormindo havia meia hora. — trecho retirado de 'A abadia de Northanger'.
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Sendo este o primeiro livro escrito de Jane Austen, muito me assombra a maestria e a maneira requintada com a qual ela, em tão tenra idade, conseguiu compor uma trama tão primorosa. Nessa obra, Austen transporta seu leitor a meados do século XVIII, num período onde o gênero de romance gótico havia de estar bastante em voga na sociedade inglesa. E, pegando o embalo, Jane acabou escrevendo páginas que acabaram resultando numa deliciosa sátira ao gênero gótico; em como os enredos e elementos sombrios destes instigam nossa imaginação, às vezes, fazendo-nos enxergar coisas que por vezes são irreais, levando até mesmo à idéias errôneas e equivocadas acerca de situações e pessoas. Dentro do enredo, Jane ainda sai em defesa aos romances, que, na época, eram vistos como "leituras de segunda", significando que quem os lia era tido como tolo ou inculto. Uma espécie de paródia e ainda assim, uma nobre defesa aos romances não poderia ter sido elaborada e tão bem posta como quanto a autora consegue delinear nessa obra.
De todos os livros, talvez esse seja o menor de sua coletânea (salvo aqueles que não foram terminados devido ao seu falecimento). Posso brevemente dizer, que, em poucas páginas, Jane Austen conseguiu fazer-me apaixonar mais uma vez pelo seu jeito único de escrita.