PAROS, um livro singular

 

PAROS, UM LIVRO SINGULAR

Miguel Carqueija

 

Resumo do livro de poesias “Paros”, de Plinio Motta. H.Garnier, Livreiro-Editor, Rio de Janeiro e Paris, 1909.

 

Confesso que já não sei como veio parar em minhas mãos este livro caindo aos pedaços e editado no início do século passado! Já não tem a capa da frente, está bem gasto e despencado mas ainda quase inteiro. Divide-se em três partes: Paros, Caryatides e Ementário.

São poemas de tipo castiço, muitos em forma de soneto, dedicado a um grande número de amigos dos quais não faço a mínima ideia quem sejam. E com isso, inúmeras páginas em branco ou só com a dedicatória: “A José de Paiva Azevedo”, “A Pedro B. Guimarães”, “A Alberto de Oliveira” etc.

No frontispício consta que os versos foram escritos entre 1905 e 1908. Plinio Motta é mineiro, nascido em 1876 e falecido em 1953.

Algumas de suas poesias são sinistras e mórbidas, como por exemplo “O pântano” (transcrevo com a grafia da época):

 

“É no recôndito da matta enorme

Que elle, asqueroso, eternamente dorme.

A cupula que o cobre, é densa e tetra:

Nem um raio de luz alli penetra.

Só estremece ao remoer trissante

Dos morcegos que o tocam, semelhante

De um grande sopro á negra e feia pelle.

Há ruidos soturnos dentro delle,

Côro de vozes cavas, côro horrendo!

..............................”

 

Não prossigo, o poema é enorme, desfiando os horrores do pântano. Não são versos entusiasmantes.

O autor tem qualidades mas deixa-se levar pela negatividade em vários textos. Mas ele também canta a natureza de forma mais alegre, como em “Os sabiás”:

 

“Escuta: os sabiás estão cantando agora,

Ao fulgido esparzir dos matinaes albores.

Que tremolos na voz! que doce voz canora!

Quantas notas de amor! como falam de amores!

Que ineffavel canção essa canção erguida

No conchego feliz, pelos florentes prados...

Ao menos uma vez possa eu também na vida

Cantos assim cantar, tão d’alma assim cantados!”

 

Infelizmente tem coisas nesse livro que eu não suporto, tem um poema abominável onde o diabo em pessoa se alegra com a morte de Cristo na cruz (que na verdade foi uma derrota do diabo, pois Cristo ressuscitou). O autor nunca deveria ter escrito esse poema, muito menos publicá-lo.

Falta simplicidade no estilo, que se pode considerar pesado. É um estilo hoje ultrapassado, embora seja uma curiosidade da época.

Paros é uma ilha grega, cariátides são esculturas femininas que servem de colunas de sustentação e ementários são cadernos de apontamentos.

 

Rio de Janeiro, 16 de setembro de 2023.

 

Na foto de cima, uma dedicatória de 1910.