POETA DO SEM

Lúcio Alves de Barros

BARROS, Lúcio Alves de & VILELA, Antônio Henrique. Das emoções frágeis e efêmeras. Belo Horizonte: Ed. ASA, 2006.

Um aluno meio histriônico perguntou e pediu, após solicitar e fazer pouco caso de um exemplar, um comentário sobre o meu livro publicado com um amigo chamado Antônio Henrique Vilela. Pensei bem no que disse o intrépido aluno e resolvi escrever algo. A idéia do livro, intitulado “Das emoções frágeis e efêmeras”, lançado no dia 22 de setembro de 2006, surgiu após a descoberta de algumas poesias que há muito já haviam sido escritas e andavam soltas por aí. Ainda na faculdade conversei com o meu amigo e o convenci sobre como seria interessante a arte de escrever sem compromisso, sem obrigações, sem preocupações com a famigerada crítica e sem o desejo de saber o que a sociedade pensa ou vai pensar.

Em poucas palavras encontrei uma identidade: sou poeta do sem: sem compromisso, sem fraude, sem constrangimentos, sem dinheiro, sem favor, sem plágio, sem pudor e sem que dar satisfações a ninguém. Daí foi um passo para decidir sobre o livro e pronto. O próximo passo foi ir à luta. Trabalhar, trabalhar e trabalhar foi o lema durante todo o mês de julho e agosto do ano de 2006. Naquele período decidimos e discutimos cada uma das poesias. Período bom e de acerto com os fantasmas do inconsciente. Nele lembramos das deusas, das fadas, das serpentes, das estrelas, das bruxas, das mariposas, das belas e maravilhosas mulheres que fizeram e ainda fazem parte de nossa vida. Mais que isso, dialogamos sobre a finitude da vida, da beleza dos filhos, da fé em Deus, da esperança inexistente, da arte de viver e o problema da natureza humana sempre possessiva e passível de resignação e decepção.

Paralelo a esse prazeroso trabalho seguiu o duro esforço da busca dos patrocinadores. Muitos disseram não; vários falaram sim, abraçaram o projeto, abriram as portas da instituição, da família, da casa e da boa convivência. A esses temos que respeitar, a eles não somente a nossa eterna admiração, mas também o agradecimento e a coragem de apoiar um livro de poesia.

Em meio aos contatos não foram poucos os que não acreditavam em nossa empreitada. Boa parte - pessoas perversas por sinal - julgou sem saber, sem ser, sem ter, sem poder, sem ouvir e sem ver. Como poeta do sem, escutei que um livro de poesia não se vende nesse país, que as pessoas não lêem, que não éramos conhecidos e que vínhamos de uma instituição que poucos confiavam ou acreditavam. Sem dar bolas, ouvimos e não acreditamos. Seguimos em frente e nos apegamos aos que deram crédito à proposta, aos que nos conheciam de verdade e nas amizades que nunca nos faltaram. Contudo, não podemos dizer que saímos impunes de todo o processo. As emoções, frágeis e efêmeras, marcaram nossa alma. Cada palavra de desprezo, de descrença e pavor foi resignificada. Algumas se transformaram em lágrimas, outras em poesias e várias em lembranças que, aos poucos, vamos esquecer.

O fato é que o livro de nossas emoções cristalizou amizades, revelou pessoas, trouxe amigos e reuniu sentimentos. Cremos que isso é o sentido da vida, conhecer os outros e, ao mesmo tempo, deixar ser conhecido. “A vida não é para principiantes”, tenho afirmado e pensado muito sobre isso, e nela somos todos aprendizes e, mais do que nunca, torço para que tanto os amigos como os inimigos possam escrever o próprio livro. Qualquer livro, que seja ele técnico, poesia, contos, biografia, alto-ajuda ou ficção. É na palavra que materializamos sentimentos e, de uma forma ou de outra, deixamos para os que estão por vir um pouco da gente. Esse foi o meu, o nosso objetivo: reunir para construir, perceber e conhecer. Isso porque ainda acredito, provavelmente por teimosia, que na alma e no coração de homens e mulheres resida um leitor e um escritor que, em silêncio espera o desarme ou mesmo a oportunidade de colocar em páginas as lágrimas e sorrisos da vida que segue.