Um de nós é o próximo
Sequência de "Um de nós está mentindo", grande sucesso da autora norte-americana Karen M. McManus publicado em 2018, “Um de Nós é o Próximo”, thriller lançado dois anos depois, retorna aos sorumbáticos corredores e salas de aula do Colégio Bayview, com a promessa de uma continuidade ainda mais perturbante ao legado de Simon Kelleher. Com novos personagens e conflitos, dessa vez a trama avança para um experimento ainda mais aterrorizante por meio da inserção de um jogo aleivoso nos moldes verdade/desafio, trazendo consequências muito mais periculosas para os alvos das investidas.
Pelo menos deveria ter sido assim, porque na prática a sequência não conseguiu espraiar a condição de uma obra genérica em relação à antecessora, engendrando banais situações conflituosas, não justificando em momento algum das suas 400 páginas o propósito de retomar o enredo. A verdade é que os novos protagonistas - a indecisa Maeve Rojas, seu ex-namorado atrapalhado Knox e a impulsiva Phoebe Lawton - não entregam o mesmo carisma dos antigos Nate, Bronwyn, Cooper e Addy. Embora os quatro ainda estejam presentes, deixaram de ser o epicentro do enredo.
O trio protagonista parece ser um tanto atempado e durante o desenrolar da história fica a impressão de que um dos poucos acertos está centrado na maneira como as relações amorosas são exploradas pela autora Karen M. McManus. Além disso, a ferramenta usada pela autora para o estabelecimento do conflito, alinhado à dinâmica verdade ou desafio, parece um estratagema batido, já explorado à exaustão, despontando como um recurso até desinteressante.
Além disso, “Um de Nós é o Próximo” se não conta – sendo bem generoso - com reviravoltas necessariamente previsíveis, também passa ao largo de oferecer passagens no melhor estilo sui generis. Fica mesmo a impressão de que o leitor mais atento, com a imaginação um pouquinho aguçada, esbanja potencial para montar todo o quebra-cabeça, sem precisar evocar a aura de grandes detetives da literatura como Sherlock Holmes ou Hercule Poirot. Diferente da obra antecessora, não necessariamente um divisor de águas ou leitura obrigatória, que consegue proporcionar, além de uma leitura mais fluida, uma sucessão de acontecimentos muito mais surpreendentes.
Promete muito e acaba entregando pouco, seria uma premissa bastante assertiva para tipificar “Um de Nós é o Próximo”. Mas, o livro quem sabe possa entreter um pouco se o objetivo for buscar uma leitura despretensiosa, rechaçando constante reflexão.