A noite de luz de Farmer

 

A NOITE DE LUZ DE FARMER

Miguel Carqueija

 

Resenha do romance de ficção científica “Noite de luz”, de Philip J. Farmer. Galeria Panorama, Alfagide (Damaia), Portugal, sem data (direção de Lima Rodrigues); “copyright” 1963, Fawcett Publications. Título original: “Night of light”. Tradução de Eduardo Saló. Série antecipação, 19.

 

História muito estranha, passada num planeta onde tudo depende da vitória de um ou outro “deus” que se reencarnava periodicamente, Yess e Algul, ambos filhos da Deusa Mãe, Boonta. Essa religião causa preocupação fora do planeta, estranhamente conhecido como “Alegria de Dante”, por se chocar com a doutrina cristã. E John Carmody, um sujeito da Terra, do tipo cínico e com um passado tenebroso, é o protagonista, que acabará tendo um papel muito importante nos conflitos que ocorrem no continente Kareen. Também aparecem alguns padres católicos, pouco simpáticos.

A impressão que eu tenho é a de uma velada zombaria do autor em relação à Igreja Católica ou ao Cristianismo em geral. Até mesmo as analogias teológicas parecem indicar isso: fala-se numa “Última Ceia” e também há uma referência a Noé.

Ralloux, embora padre, refere-se na página 47 à “injustiça divina”, o que é uma blasfêmia.

No tal planeta ocorrem as sete noites do “Risco”, onde se decide a sorte daquela população. É o centro do argumento e Carmody, contra todas as expectativas, acaba se tornando padre, embora um padre polêmico, que inclusive se envolve numa briga com católicos supostamente conservadores mas que utilizam linguagem de ódio. Carmody seria o moderado, mesmo tendo um temperamento muito pouco místico.

Carmody, embora dizendo-se fiel à Igreja, afirma a realidade dos fenômenos sobrenaturais no planeta de Dante, inclusive referentes à tal “deusa”, com detalhes indigestos. Em suma, o romance é uma miscelânea pseudo-teológica desagradável e enjoativa, sendo necessária muita paciência para se ler. O autor parece empenhado em mexer com os valores religiosos e isso eu não reputo prática saudável.

 

Rio de Janeiro, 1º de julho de 2023.