Responsabilidade e Julgamento

Responsabilidade e Julgamento é uma obra escrita pela autora Hannah Arendt, uma judia alemã cuja trajetória acadêmica foi iniciada e findada nos Estados Unidos da América, onde também foi encerrada a carreira da sua jornada de vida. Hannah em seus inúmeros escritos fez uma análise cirúrgica e muito robusta no que concerne a senso crítico de um dos episódios mais nefandos da história da humanidade: a Segunda Guerra Mundial. No livro Responsabilidade e Julgamento, a autora desenvolveu uma das teorias mais célebres de sua linha de pensamento, a saber a banalidade do mal, que nos leva a refletir sobre a sociedade mecânica e levada pelas massas onde vivemos. Uma sociedade formada por indivíduos que ao agirem e pensarem, assemelham-se a um grupo de operários que trabalham reiteradamente movendo e operando uma enorme máquina sem conhecer a sua estrutura, sem ao menos refletir o papel fundamental de cada peça, porque não racionalizam e são alienados pelo trabalho, pois se relacionam com o trabalho como um fim em si mesmo, e não um meio, pondo a salvo também as brilhantes ideias tecidas por Karl Marx, em analogia. Nesse sentido, Hannah argumenta que a banalidade do mal é o mal perpetrado por uma massa compacta de homens que não pensam, e não pensam porque não têm consciência. O interessante é que em diversos momentos, a autora também faz remissões à sua obra Eichmann em Jerusalém dentro de Responsabilidade e Julgamento, tendo como ponto de partida uma indução à premissa de que a moralidade e a humanidade nem sempre caminham juntas, a mesma coisa em relação à justiça para os acadêmicos de Direito. Durante o auge da Segunda Guerra, Eichmann exercia sua função estando a serviço do governo nazista, na qual ele fornecia as vítimas dos atos mais tenebrosos e as conduzia para os campos de concentração. Em seu julgamento, em Jerusalém, Eichmann alegava nos interrogatórios que deveria se eximir de responsabilidade por todos os ocorridos, visto que ele não executava os atos criminosos, pois "apenas" fornecia as vítimas para a casa da morte cumprindo ordens do governo que vinham de cima, haja vista que ele funcionava como um dente na engrenagem. De acordo com a análise da autora Hannah Arendt, os atos indiretos daqueles que estavam a serviço do governo nazista eram piores e mais reprováveis do que aqueles que praticavam diretamente o delito, e não eram dignos de abstenção de responsabilidade, porque se não houvesse quem levasse as vítimas para os campos de concentração, seria impossível realizar a execução, com a posterior consumação daqueles crimes contra a humanidade. Em termos mais simples, Hannah eloquentemente elucidou que sem os dentes da engrenagem, sem aqueles que obedecem certas ordens sem questioná-las, por mais pequenos hierarquicamente que sejam, não é possível nenhum sistema de governo concentrar tanto poder e autoridade, tampouco causar destruição. Naquele cenário, cada um desses que estavam espalhados dentro da massa tinha a sua responsabilidade individual, mas em sua miserabilidade muitos creram estar amparados por uma moralidade. Eles não pensavam, e justamente por não pensarem, cegamente não ousaram tentar desconstruir um mal que naquele contexto estava sendo normalizado, naturalizado. Em síntese, a obra de Hannah Arendt nos ensina sobre responsabilidade individual, que na vida cada um de nós somos um julgador, porque quando nos entregamos à condição de seres pensantes, nós sabemos discernir quando as coisas que passam pelos nossos olhos e ouvidos estão fugindo da normalidade. Sobretudo, a mensagem é que quem vê a injustiça e permanece de braços cruzados diante dela, compactua com a mesma e a retroalimenta.

Ane Cardoso
Enviado por Ane Cardoso em 05/07/2023
Código do texto: T7830167
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