Um catolicismo ambíguo: "Converter-se", de Arturo Paoli
UM CATOLICISMO AMBÍGUO: “CONVERTER-SE” DE ARTURO PAOLI
Miguel Carqueija
Resenha do livro “Converter-se”, de Arturo Paoli. Edições Paulinas, São Paulo-SP, 1976. Coleção “Espírito e vida”, 1. Tradução: Luiz João Gaio.
Na capa de trás do volume lemos: “Procuraremos configurar a pessoa do cristão tomando como ponto de referência a paixão de Cristo: não acreditamos num Cristo filósofo, ideólogo, caudilho político: acreditamos no Salvador”.
Acreditando nessas palavras, li a obra. Infelizmente o resultado não é satisfatório e a ortodoxia do autor não ficou clara na sua análise sobre como os cristãos deveriam ser. “Falamos não somente do cristão, mas do homem, que é mais do que alguém que como, bebe, que fuma, que dorme; falamos do homem novo, da pessoa. O permanente no campo político é a libertação, e não a mudança.” (pg 82) Frase aliás difícil de compreender.
Na página 79 lemos um verdadeiro descalabro:
“Por que é que uma pessoa que ama, uma pessoa de muito valor, amanhã pode ser um conservador e um opressor?”
Por que essa ofensa aos conservadores? O autor, por mais que disfarce, está contaminado pelas idéias esquerdistas. Mas tem mais na página 133:
“A coisa mais surpreendente é como possa fazer um discurso de fé quem faz na sua vida uma opção capitalista.”
Esquece o autor que a Igreja rejeita, sim, o socialismo, com seu cortejo de violência, matança e desgraça.
Há mais artilharia contra o capitalismo na página 136:
“Serve-se da Igreja, do Estado, da polícia, de qualquer fabricante de leis, de proibições para manter de pé este muro de Berlim no qual está escrito: “Entrada proibida””.
Mesmo tendo sido usada a expressão “muro de Berlim” em sentido metafórico, nunca é demais lembrar que quem construiu o tal muro (real) não foi o capitalismo e sim o comunismo.
Ainda que com um estilo não-agressivo, o livro não me parece recomendável. Ele aponta para a teologia da libertação sem coragem para entrar nela abertamente.
Rio de Janeiro, 15 de junho de 2023.