Os Doze Trabalhos de Hércules - recontado por Isabelle Pandazopoulos.
São famosos os doze trabalhos de Hércules... Não me saíram as primeiras palavras desta resenha as que me agradam. Saíram-me as palavras erradas. Principiei a resenha com uma frase que não traduz o que pretendo dizer acerca dos doze trabalhos de Hércules, dos quais um é famoso: o que narra o embate do herói grego com a colossal, monstruosa Hidra de Lerna, criatura que habita os pesadelos de todos os homens, monstro cujas cabeças, as originais, algumas pessoas acreditam serem sete, oito, outras acreditam, dez, não são muitas pessoas que tal pensam - e neste livro informa-se serem dez as cabeças monstruosas que tem o herói, não se sabe se originário de Tebas, se de Creta, se da Argólida, se de outras paragens, de cortar e impedir que do toco residual do pescoço de cada uma delas brote outras duas cabeças. Um trabalho - hercúleo, dir-se-ia - e tanto, o de Hércules, descendente de Perseu, o herói, este, que matou Górgona - que muitos de nós conhecemos por outro nome: Medusa -, a mulher de cabelos de serpentes cujo olhar petrifica todos que, inadvertidamente, lhe dirigem o olhar. Mas, e os outros onze trabalhos quais são? Quais são os outros trabalhos do herói, semi-deus, e, por fim, deus, grego? Puxando, e com força hercúlea, pela memória, uma e outra pessoa sabem evocar o terrível leão da Neméia, monstro de pele vulnerável, nascido na Lua, irmão da igualmente monstruosa Esfinge, contra o qual bateu-se o herói grego, mas não se lembram que fim Hércules lhe deu. E há quem se lembre de outro monstro que Hércules enfrentou: o gigantesco javali que vive no monte Erimanto. E dos imundos estábulos de Áugias há quem saiba tecer alguns comentários. E há quem saiba narrar algumas cenas da luta de Hércules contra Cérbero, o monstro que ele enfrenta em seu derradeiro trabalho, dos doze, este, o mais difícil que, sob ordens da maligna deusa Hera, Euristeu, rei de Micenas, homem pusilânime e maligno, obriga-o a empreender, façanha que tem ele, o mais popular, ainda hoje, dos heróis gregos, para concluí-lo, de descer ao inferno. Para que tal trabalho, que, mais do que todos os outros, estava além de suas forças, encontre bom fim, conta Hércules com o inestimável auxílio da deusa Atena, a da sabedoria, e do deus Hermes, o mensageiro dos deuses. E antes de enfrentá-lo, empreendera, a bordo do barco do velho Caronte, a travessia do rio Estige, em cujas águas infernais, a viver - se assim é correto dizer - sofrimento eterno, está a alma de Meleagro, irmão da bela Dejanira, cujas mãos Hércules obterá em matrimônio.
É o herói grego orgulhoso, arrogante, destemido, e por todos temido. A sua força incomum e o seu porte colossal deram-lhe fama em toda a Grécia. Ainda jovem, exibia seu corpanzil pétreo, de músculos avantajados. Ao estudo escolar, sob o magistério de Lino, preferia as atividades físicas, as lutas, os desafios corporais com os quais ele se envolvia apaixonadamente. Era esta a sua maior qualidade. O seu temperamento irascível inúmeros dissabores acarretaram-lhe; fê-lo perpetrar crimes sem conta, um deles, a morte de seu professor, durante um acesso de fúria indomável. À tragédia, não tinha Anfitrião, o pai do herói grego, outra alternativa: enviou ele Hércules ao monte Citerão, em exílio, onde ele viveu muito tempo. De regresso à Tebas, sua terra, Hércules, a impeli-lo seu temperamento atrabiliário, provoca uma guerra entre os mínios, que, sob o reino de Ergino, extorquiam bois à Tebas, e Tebas. Durante a refrega, Ergino fere de morte Anfitrião, e Hércules mata Ergino. Antes de exalar o seu suspiro derradeiro, Anfitrião exorta seu filho a ir ter com o adivinho Tirésias, de cujos lábios Hércules vem a saber de sua origem olímpica: é seu pai, Zeus, o deus do Olimpo, Zeus, o filho de Cronos, Zeus, o deus que em guerra contra os gigantes sobrepujou-os, Zeus, o deus que, apaixonado por Alcmena, assume, sem que ela o soubesse, a figura de Anfitrião, dela o marido legítimo, e a tem em seus braços apaixonados - e desta relação nasce Hércules.
Hércules casa-se com Mégara, filha do rei Creonte, de Tebas, e com ela tem dois filhos. A felicidade do herói grego enfurece a deusa Hera, que o odeia. Hera quer a perdição de Hércules. Para atingir os seus objetivos, manda Íris e Lissa, suas serviçais, roubarem de Hércules a sanidade. É trágico o resultado das ações da deusa maligna: em seu desvario, sob a influência das duas serviçais da deusa que tanto o odiava, Hércules mata seus dois filhos e Mégara, sua esposa, mãe deles. Após este trágico episódio de sua heróica e dramática trajetória, Hércules principia, resignado, os doze trabalhos, que lhe fizeram a fama, e foi, deles, o primeiro, o de enfrentar o terrível, monstruoso, leão da Neméia, tarefa da qual ele se desincumbiu com o emprego de sua fenomenal e irrivalizada força e de sua inteligência. E seguiram-se os outros onze trabalhos, que ele empreendeu, tendo em todos eles um bom fim, para desgosto e contrariedade de seu primo, Euristeu, rei de Micenas, e da deusa Hera: segundo trabalho: matar a hidra de Lerna; terceiro: levar, vivo, a Euristeu, o javali de Erimanto; quarto: capturar, e levar a Euristeu, a corça dos chifres de ouro; quinto: matar as aves do lago Estínfale; sexto: limpar os fétidos estábulos de Áugias; sétimo: capturar, vivo, e levar a Euristeu, o touro do rei Minos; oitavo: capturar, e levar ao rei de Micenas, as quatro éguas antropófagas de Diómedes da Trácia; nono: roubar o cinturão de Hipólita, a rainha das Amazonas; décimo: derrotar os mil bois de Gerião; décimo primeiro: pegar as maçãs de ouro do Jardim das Hespérides; e, enfim, o décimo segundo trabalho: capturar Cérbero, o demoníaco animal de estimaçâo de Hades.
Estes são os doze trabalhos de Hércules, nesta sequência empreendidas, conta-nos Isabelle Pandazopoulos, que, após o término das aventuras de Hércules - Héracles, para os gregos -, conta que os historiadores não se entendem quanto à sequência dos trabalhos, e tampouco à origem de Hércules, pois são dele numerosas as versões da biografia, e muitas delas contraditórias, o que a obrigou, considerando textos, sobre os quais ela se debruçou, de Apolodoro de Atenas, de Diodoro da Sicília, e de Homero, Hesíodo, Eurípides, Ovídio, Virgílio, e inúmeros textos incompletos, a decidir que sequência daria aos trabalhos e que origem do herói contaria, dentre as várias existentes, vindo a conjugar elementos de duas delas para, direi, recriar-lhe a origem, podendo, assim, apresentar uma narrativa coesa.
Conquanto se concentre nas doze façanhas heróicas de Hércules, não deixa a autora de contar outros capítulos fascinantes dos mitos gregos: a morte, pelas mãos de Anfitrião, de Electrião, rei de Micenas, pai de Alcmena; a história de Prometeu, e a de Atlas; o fim trágico dos centauros Fóton e Quíron; o nascimento do Minotauro; e outras histórias igualmente fabulosas.
No decorrer dos longos dez anos de seus trabalhos a percorrer o monte Parnaso, a cidadela de Argos, o pântano próximo às fontes de Amimone, o monte Erimanto, o Ponto Euxino, e Temíscera, a Macedônia, Ilíria, e o monte Atlas, enfim, toda a larga extensão das terras gregas, e até, destas, o mundo subterrâneo, o do reino de Hades, contou Hércules com o auxílio de Zeus, Apolo, Atena e Hermes, e o de Iolau, seu sobrinho.
Destaco do livro o capítulo 10, "Um touro, duas éguas, um cinturão, mil bois e algumas maçãs...", que se sucedeu ao capítulo que anuncia o décimo segundo trabalho de Hércules, o da ida do herói grego ao inferno, à captura de Cérbero, o monstro de três cabeças. Narra o décimo capítulo os trabalhos sétimo, oitavo, nono, décimo e décimo primeiro, os cinco enfeixados no título. Após limpar os estábulos de Áugias e desincumbir-se dos cinco trabalhos seguintes, e antes de se lançar ao mais difícil dos trabalhos que seu primo Euristeu, sob ordens de Hera, lhe exigia, reuniu-se Hércules com Alcmena, sua mãe, e Iolau, seu sobrinho, que tanto o adorava, e que ele tanto amava, e Íope, sua sobrinha, de cuja existência só então soube, e contou-lhes os doze trabalhos. Neste capítulo, narra Isabelle Pandazopoulos os momentos felizes que antecederam a ida de Hércules ao Hades. Os seis primeiros trabalhos de Hércules a narradora os contou nos capítulos anteriores; neste, ela apresenta Hércules a contar aos seus três queridos convivas os cinco trabalhos seguintes. Para a narrativa do décimo segundo trabalho, reservou o capítulo posterior.
Derrotado Cérbero, vai Hércules à procura de Dejanira, irmã do infortunado Meleagro, cuja alma sofre nas águas do rio Estige. E encontra-a: é Dejanira mulher majestosa, exuberante, linda, tão linda, tão bela, tão formosa, que todos os homens a requestavam. E ela se casaria com o homem que a derrotasse numa corrida de bigas. Derrotou-a Hércules. E casaram-se o herói grego e a bela, e ciumenta, filha de Meleagro. E deram ao mundo um filho, Hilo. E viveram felizes para sempre. Viveram felizes para sempre Hércules e Dejanira?! Está o leitor curioso para conhecer o fim da aventurosa vida de Hércules?! Leia, dele, a história, que Isabelle Pandazopoulos recontou num estilo simples e gracioso, cativante. É o livro infantojuvenil. Mas os adultos podem lê-lo, sem moderação.