Um Apólogo (Várias Histórias) - de Machado de Assis.
É este o conto mais popular de Machado de Assis; ou um dos mais populares. Rivaliza-se com O Alienista e com Um Conto de Escola. Incorre-se em erro imperdoável ao dá-lo como um conto?! Não seria o mais apropriado classificá-lo na categoria de apólogo?! Não creio que tal controvérsia tenha algum valor. Talvez tenha-o.
São as personagens deste despretensioso conto do Bruxo do Cosme Velho uma agulha e um novelo de linha, e os figurantes, que jamais se pronunciam, uma baronesa e uma costureira, nenhuma delas nomeada, e um alfinete, que arremata o conto - ou, digo melhor, o apólogo?!
A rivalidade entre a agulha e a linha, ambas presunçosas, é o tema do conto, que é bem curto, de uma página e mais algumas linhas. Ambas as protagonistas digladiam-se verbalmente, disparando uma contra a outra farpas ferinas, desdenhando da importância uma a da outra, e superestimando-se, até o relato definir a vitoriosa; e neste ponto, encerrada a disputa entre elas, o conto não se conclui - este é um final, que poderia agradar a muitos autores, que se dariam com ele satisfeito; mas ao conto Machado de Assis decidiu adicionar outro personagem, um alfinete.
Coça-me, a inspirar-me o espírito do criador do Sítio do Picapau Amarelo, o desejo de reescrever este conto, apólogo, de Machado de Assis, dando-lhe outra tecitura, outra conclusão, mas contenho-me em minha ambição presunçosa, e guardo comigo o que me ocupa a mente.
Em vez de animar este conto com animais antropomorfizados, o que é comum nas fábulas, Machado de Assis presenteou uma agulha, um novelo de linha e um alfinete com qualidades humanas, a inveja, a presunção, a vaidade, o desdém, o cinismo.
É este apólogo um conto despretensioso, destituído de sofisticação. Ou é sofisticado em sua simplicidade, aparente simplicidade?!