Sobre "Religião dos espíritos"

 

SOBRE “RELIGIÃO DOS ESPÍRITOS”

Miguel Carqueija

 

Resenha do livro “Religião dos espíritos”, de Francisco Cândido Xavier/Emmanuel. Federação Espírita Brasileira (FEB). Ilustração de capa: Jo (conforme assinatura num canto). A folha de rosto está faltando, nela deve constar o estado e município da editora e data de publicação.

 

Um pequeno prefácio datado de 29 de janeiro de 1960, assinado por Emmanuel, define a época do texto: na verdade são apontamentos escritos ao longo de 1959 em sessões espíritas na cidade mineira de Uberaba.

Francisco Cândido Xavier, ou, como é mais conhecido popularmente, Chico Xavier, é o nome de um conhecido médium espírita escrevente, ou seja, que escrevia suas mensagens por psicografia. Emmanuel é o nome com que se apresenta o espírito que “dita” as mensagens pela mão do médium — isto, se acreditarmos nos fenômenos da psicografia, o que não é o meu caso. De fato eu sou católico e não creio na doutrina da reencarnação do Espiritismo Kardecista; tampouco creio em comunicação de espíritos desencarnados através de médiuns. Entretanto, quando assisti Chico Xavier na televisão, simpatizei com ele e sua simplicidade. Penso que a sua fé era sincera.

O livro em questão é bem escrito e, à parte o aspecto doutrinário, apresenta pensamentos filosóficos e morais muito válidos, como eu encontrei em outras obras de fundo espírita.

Por exemplo, lembra como a morte iguala todos os homens. Na reflexão 44, intitulada “A grande barreira”, observa:

“Napoleão, o estrategista coroado imperador, plasmou com punho de bronze o temor e a admiração em milhões de súditos, mas não soube guerrear o câncer que lhe exauriu a força vital na solidão de Santa Helena.”

Sobre não fazer caso das ofensas (66, “Abençoa”):

“Ouves, triste, os que injuriam e amaldiçoam.

Abençoa-os e passa.

São eles tão infelizes que ainda não podem assinalar as próprias fraquezas. (...)

Se alguém te fere, abençoa.

E se esse mesmo alguém volta a ferir-te, abençoa outra vez.”

Vemos também sábias observações sobre o desperdício dos dons que Deus nos concede (29, “Versão prática”):

“Há quem recebe o dote da cultura, bandeando-se para as fileiras da vaidade; quem recebe a mordomia do ouro, descendo para os antros da usura; quem senhoreia o tesouro da fé preferindo ajustar-se ao comodismo da dúvida malfazeja; quem exibe o talento da autoridade, isolando-se na fornicação da injustiça; quem dispõe da riqueza das horas, mantendo-se no desvão da ociosidade, e quem frui o dom de ajudar, imobilizando-se no palanque da crítica.”

Como se vê a linguagem é rica e elegante, assim mantida ao longo de toda a obra.

 

Rio de Janeiro, 23 de maio de 2023.