Ruínas célebres em desfile

 

RUÍNAS CÉLEBRES EM DESFILE

Miguel Carqueija

 

Resenha do livro “Resenhas célebres”, de Herman e Georg Schreiber. Ibrasa, São Paulo-SP, 1960. Biblioteca Explorações e Descobertas, 2. Tradução de J. Monteiro. Capa de Y. Castañer Lozoya. Título original austríaco: “Versunkene Städte – Ein Bush von Glanz und Untergang”, “copyright” 1955 de Paul Neff Verlag, Wien (Viena).

Será este J. Monteiro, tradutor da obra, o conhecido escritor Jeronymo Monteiro? É bem possível. Os autores são dois irmãos, pesquisadores bem preparados. O livro, com mais de 300 páginas, explora o universo das ruínas arqueológicas espalhadas pelo mundo, numa narração atraente e instrutiva.

Veja-se por exemplo a fascinante história de Is, esquecida cidade bretã tragada por ondas gigantescas no século IV ou V. Parecem espantosos esses fenômenos dos quais ficaram memória. Dizem os autores:

“A cidade de Is amontoava-se sobre si mesma para melhor resistir aos ventos e às tempestades; suas casas, redondas, eram afundadas no solo ou construídas sobre fortes estacas. Os habitantes, agrupados por famílias, levavam a mesma vida que seus antepassados chegados antigamente em carros (...) As vagas gigantescas que os diques e as comportas não puderam deter, submergiu os habitantes de Is. Em verdade, como é que os habitantes de Is, pescadores e artesãos que eram, poderiam ter construído uma muralha capaz de resistir aos furiosos ataques do oceano?”

Próxima a Nápoles, encontrava-se Baia. “Nenhuma coisa do mundo é mais amável do que Baia”, escreveu Horácio, citado no livro. Havia fontes termais, muito utilizadas pelos romanos; Júlio César tinha ali uma residência.“Todos os romanos que, no final da República, tinham um nome, dinheiro e um título na sociedade, viviam em Baia. Mário, o rude guerreiro, viveu lá, depois foi a vez de Pompeio, o cabo-de-guerra; dos oradores Cícero e Hortêncio; do poeta e polígrafo Varrão e, afinal, de Antônio, cuja quinta familiar elevava-se na praia.”

Creio que Pompeio vem a ser Pompeu, em outra grafia.

Há referências a pesquisadores modernos, como o grande Alexandre Humboldt, que conheceu a lendária Tihauanaco. Outro mencionado é o cientista norueguês Thor Heyerdahl, com sua teoria sobre a América do Sul e a Oceania. Na página 51, a propósito de Ponape, ilha da Micronésia, o livro cita uma inteligente frase de Somerset Maugham, escritor e médico inglês, que conheceu bem a Oceania: “Diz-se que os povos felizes não têm história”.

Pois a ilha de Ponape, “descoberta pelo navegante português Pedro Fernandes de Queirós”, dizem os autores, “nunca foi objeto de um estudo detalhado”. E citam os sábios alemães W.S. Kubary e Paul Hambruch: “foram os primeiros a estudar os misteriosos edifícios construídos com blocos de basalto pelos antigos habitantes de Ponape”.

Como se vê, por toda a parte, mesmo em pequenas ilhas — Pomape não é nenhuma Sumatra — podem existir ruínas enigmáticas. O mundo é repleto de mistérios antigos.

Numa viagem de papel pelo mundo o estudo também chega à África, ao reino de Manamatapa, às pesquisas da arqueóloga Gertrude Caton-Thompson no Zimbabué.

“Os objetos encontrados foram numerosos e se pareciam entre si: pontas de flecha, machados, enxadas, raios de rodas mais ou menos decorados, contas de vidro em quantidades consideráveis, jóias talhadas em diferentes materiais e fragmentos de cerâmica.”

Ninguém é mais paciente que os arqueólogos em suas pesquisas: cada caco que encontram é importante.

Obra magistral.

 

Rio de Janeiro, 7 a 22 de maio de 2023.