O Diplomático (Várias Histórias) - de Machado de Assis.
É o personagem deste conto, Rangel, o diplomático, um homem de temperamento fantasioso. Aos quarenta e um anos, solteiro, frequenta a casa de João Viegas, escrivão de vara cível da corte, e, nos dias de São João, entretêm os convivas lendo-lhes o livro das sortes, indicando se alguém deles se enamorava. Previu amores a D. Felismina, solteira, na altura dos quarenta anos, e que ela, para conhecer sua cara metade, teria de ir à igreja, domingo. E revela o autor que Rangel apaixonara-se por Joaninha, filha do João Viegas, mulher que ele, Rangel, conhecia desde a infância dela. Pacato, não se lhe declarava; fantasioso, imagina-se em aventuras nas quais obtêm, sempre, sucesso invejável em todos os seus empreendimentos.
Na casa de João Viegas, repleta de pessoas, chegam Calisto e um rapaz, Queirós, bonito e de trato agradável, cuja entrada na casa foi triunfal. Não precisou Queirós de muito tempo para conquistar a simpatia e a admiração de todos os convidados dos anfitriões, exceto as de Rangel, que, testemunhando-lhe o sucesso e o enlevo com que Joaninha o fitava, embevecida, roeu-se de inveja, de amor-próprio ferido, entendendo-o como um seu rival, um rival que, pensou, e doeu-se ao pensar, não poderia sobrepujar em batalha pelo coração de Joaninha, a personagem de seus devaneios de homem doentiamente apaixonado. Mas não se declarava Rangel à Joaninha; não lhe entregava a carta que lhe escrevera; e fantasiava: via-se, feliz, na companhia dela. Sua felicidade, uma fantasia; o mundo, o real, e não o onírico, às fantasias de sua imaginação ínfrene punha um obstáculo: Queirós. Enfim... Encerro o meu comentário, para não incorrer numa indiscrição, um pecado mortal: o de revelar o desenlace da trama urdida pelo magistral criador de Capitu.
Um adendo: Rangel é um símbolo de personalidade comum, menos incomum do que se pensa.