De volta à vida - Nadine Gordimer
Nadine Gordimer - De volta à vida, SP, Companhia das Letras, 2007
Stephanie Cross, do Daily Mail diz que com este livro Nadine Gordimer “produziu uma meditação séria e belamente escrita sobre o casamento e a solidão.” Sim, mas De Volta à Vida é muito mais do que isso, claro.
É um livro bastante irônico - e sendo sobre um casamento já com certa duração não podia ser muito diferente mesmo - e ainda que também trate de um grave problema de saúde de um personagem, tem a virtude de não transformar a vida de todos num melodrama.
Adrian (65 anos) e Lindsay Bannerman (59), o casal principal, tem três filhas (uma delas, curiosamente, vivendo no Brasil) e um filho, Paul. Paul Bannerman é um ativista ambiental sul-africano e quando a história começa ele está se recuperando de uma cirurgia; retirou um tumor maligno da tireoide. E, desgraça das desgraças (ou uma tremenda ironia), tornou-se radioativo por conta da radioterapia à base de iodo: ele é um poluidor agora, e bastante perigoso.
Casado com a publicitária Berenice, ou Benni, e com um filho pequeno, Nicholas, ou Nickie, Paul tem de ser apartado de sua família e, saído do hospital, passa a quarentena na casa dos pais, Adrian e Lindsay – quase tudo que ele usa ou toca tem de ser separado ou esterilizado, pode contaminar os outros.
É Primrose, a empregada negra que sofreu na pele as agruras do apartheid racial imposto na África do Sul (mas que sempre foi bem tratada por essa família branca), quem cuida dele a maior parte do tempo. Ela quis permanecer na casa, mesmo sabendo dos riscos que corria, mesmo que os patrões lhe tivessem oferecido férias remuneradas.
Paul não vai morrer, progride no seu tratamento em direção à cura, e que interesse essa história poderia ter agora então? Ah, mas entra em cena o passado de Adrian e de Lindsay - e seu trabalho, que a levava a diversos lugares e a ficar longe do marido até por semanas às vezes.
Quer dizer, além da história sofrida de Paul, outras histórias e personagens vão surgindo: Hilde, uma guia norueguesa no México; Klara, a pequena órfã negra abandonada por ter HIV positivo; o arguto Thapelo, colega de trabalho de Paul etc.
E Nadine Gordimer, antenada também com o que se passa no mundo material, não deixa de mencionar, desde as primeiras páginas até o final, uma complexa questão ecológica do país – a preservação do delta do rio Okvango, projeto em que Paul estava metido antes da descoberta de sua doença. E pelo qual vai continuar lutando ainda durante a quarentena e depois dela.
Nadine Gordimer, premiada com o Nobel de Literatura de 1991, nos oferece com esta história permeada de ecologia “uma bela metáfora para o poder de regeneração do amor e da vida”, como destaca a editora do livro no Brasil. São muitas páginas carregadas de alta voltagem emocional e um final redentor. Quer mais?