Ficção científica: Divergência

FICÇÃO CIENTÍFICA: DIVERGÊNCIA

Miguel Carqueija

Resenha do romance “Divergência”, de Charles Sheffield. Editora Record, Rio de Janeiro-RJ, 1994. Universo dos Construtores, 2 (sequência de “Maré de verão”). Título original em ingês: “Divergence” (Book two of the Heritage Universe”), 1991. Tradução: Ronaldo Sergio de Biasi.

Charles Sheffield é um bom escritor de ficção científica, indo um pouco para o lado do humor, e seus temas são grandiosos. A história em questão é a segunda de uma série, a dos Construtores. Trata-se de um dos clichês da FC: a misteriosa existência de alguma raça original ou primitiva do universo ou desta galáxia, e de guerras ancestrais esquecidas. Os tais Construtores são seres primordiais desconhecidos que deixaram pelo braço da Via Láctea artefatos gigantescos com propriedades extraordinárias, inclusive portais ou vórtices de transporte.

Sequência de “Maré de verão”, apresenta os mesmos personagens, não só humanos, mas insetoides inteligentes que se comunicam por feromônios. Entretanto pode-se dizer que o astro da trama é um humano espertalhão, Louis Nenda, que faz dupla vigarista com um ser estranho chamado Atvar H’sial. Existem uns alienígenas que gostam de ser escravos de outras raças, o que é patético, e a misteriosa entidade conhecida como “Aquele-que-Comunica”, representante dos desaparecidos Construtores para levar a cabo os planos que eles deixaram: conduzir várias espécies à competição, até mortal, para escolher apenas uma raça, que pode ser a humana. E aí um flagelo do passado, os “zardalus” — moluscos inteligentes, fortíssimos e vorazes desde bebês — ressurgem, pois embora considerados extintos há milhões de anos, alguns eram mantidos em animação suspensa num dos artefatos dos Construtores.

Por certo a história é estapafúrdia, totalmente absurda, tanto quanto os velhos contos de fadas. Mas o autor consegue tornar o absurdo atraente à leitura com o jogo de interesse dos personagens e suas rivalidades.

Existe por exemplo um estranho robô, um “computador incorporado”: C. Índigo Tally, que tem forma humana e o irritante hábito de, antes de dizer qualquer coisa, perguntar: “Posso falar?”

Darya Lang é a cientista obcecada em pesquisar os artefatos espaciais dos Construtores — como o “Cordão Umbilical” — para esclarecer a verdade sobre aqueles seres. Ela chega a ser temerária nessa busca. Ela e Hans Rebka, que também é humano, viajam com dois alienígenas, Kallik e J’Merlia, ela uma “himenopt” e ele um “loftiano”, que são escravos dos supracitados Nenda e Atvar e querem reencontrá-los, pois sumiram há tempos. Todos irão se reencontrar em Resplendor, e ainda tem Birdie Kelly — que entra na aventura de maneira relutante — e Julius Gravas, policial interessado em prender Nenda.

Tem muita coisa complicada demais para explicar sobre esses personagens. É ler para crer.

Mas não esqueça: é tudo uma fantasia de ficção científica. Não precisa levar a história a sério. É pura recreação.

Rio de Janeiro, 22 e 23 de abril de 2023.