Fúria
–) Livro banido de King é apenas uma história morna
"Quando temos cinco anos de idade e sofremos, fazemos um grande barulho para que o mundo escute. Aos dez anos a gente choraminga. Quando chegamos aos 15, começamos a comer as maçãs envenenadas que crescem em nossa árvore interior de dor..."
Um grito cego que emerge de uma sociedade completamente arrasada, alojada em um caos profundo, precisamente compondo um labirinto de demente... Em um breve reconhecimento, “Fúria”, suspense psicológico lançado em 1977, é uma narrativa apinhada de bons momentos, outros também não tão inspiradores assim, mas prevalece mesmo a incessante impressão de ser uma obra fragmentada, como estivesse faltando alguns pingos nos IS. O livro foi escrito por Stephen King 11 anos antes de sua publicação, quando tinha 19 anos, figurando assim como a primeira obra publicada sob o pseudônimo de Richard Bachman.
Existe um misticismo muito grande em torno de “Fúria”, por o livro ter sido barrado pelo próprio Stephen King, depois de a mídia associar a história com vários crimes perpetrados nos Estados Unidos, sobretudo aqueles envolvendo atentados em escolas. Inclusive, exemplares de Fúria foram encontrados em posse dos criminosos, sendo assim um indicativo de que a narrativa poderia estar influenciando o cometimento das ações violentas.
A trama gira em torno de um aluno, Charlie Decker, que está a via de ser expulso do colégio por protagonizar um ato violento contra um professor. Um dos aspectos mais assertivos no livro é a narração em primeira pessoa. A escolha desponta como um importante trunfo para King poder dar ao leitor uma mostra da mente ambígua e desalinhada de Charlie, tecendo e também desconstruindo perspectivas emprestando mais justeza.
Após mais uma das sucessivas discussões com o diretor da escola, o protagonista impelido pela fúria, acaba propositalmente ateando fogo em seu armário e retorna a sua sala de aula empunhando uma arma de fogo, mantendo como reféns todos os colegas de turma. Durante o desenrolar desses eventos, friamente ceifa a vida de dois professores, sem antes oferecer qualquer chance de defesa. A partir daí, a história, ao invés de se tornar uma carnificina, como se a sala de aula fosse um campo de batalha em meio ao faroeste, o enredo se torna mais introspectivo. Com forte exposição ao estresse, as emoções gradativamente atingem o limite, as máscaras dissolvem e até os mais contidos se veem desnudados, passando a deixar nada mais que um véu diáfano para embuçar os medos, frustrações e fraquezas.
Um livro de Stephen King na condição de “proibidão” há décadas, é o bastante para incutir muita curiosidade. Mas a verdade é que o breve “Fúria”, mais um conto que propriamente um romance, revela alguns traços de um jovem autor ainda em busca de seu melhor estilo. Com alguns momentos sublimes (sendo um pouco generoso), a história carece de um desenvolvimento mais acurado, sendo uma história pouco verossimilhante e repleta de personagens mal delineados, que pouco ou nada têm a acrescentar.
Portanto, misticismos à parte, “Fúria” é um livro tépido e como os ataques às escolas jamais deixaram de estar em evidência nos Estados Unidos, o que praticamente isenta a obra, essa bem pode ter sido uma desculpa do autor para tirar da bibliografia um suspense psicológico peculiar pela sua inconstância, mas que uma vez descortinado, revela traços das facetas do autor.