Infância - Maksin Gorki
Apanhando e escrevendo... livro extremamente triste, mas um dos melhores que já li
Maksin Gorki - Infância, SP, editora Cosac Naify, 2007
Além do narrador Aleksiei (que é o próprio Gorki), os personagens mais destacados deste volume são os avós maternos do menino, que o criaram. Ele é órfão apenas de pai, a mãe o abandonou desde muito pequeno. O avô é um velho quase sempre encolerizado, que bate em crianças e até na mulher. A avó analfabeta é carinhosa, conta histórias, cuida de Aleksiei como se fosse seu filho.
A infância de todo mundo, mesmo dos pobres, tem certos momentos de alegria mas a de Aleksiei é impregnada de uma grande tristeza que atravessa o livro do início ao fim. Se por um lado uma vez ele se encanta com um passarinho de penas vermelhas brincando na neve, por outro presencia constantes brigas entre seus familiares, quase sempre em conflito até por pequenas coisas sem grande valor.
A seguir um dos trechos que mais me chamaram a atenção, por resumir muita coisa do que se lê em Infância: "Muito mais tarde compreendi que os russos, em razão da indigência e da penúria de sua vida, em geral adoram distrair-se com a própria desgraça, brincam com ela como crianças e raramente se envergonham de ser infelizes. Na monotonia interminável dos dias úteis, até a desgraça é um feriado, e até um incêndio é uma distração; num rosto vazio, até um arranhão é um enfeite..." Não à toa é que os russos parecem pouco se comover com o drama dos ucranianos desde a invasão de seu país por ordem do criminoso de guerra que apoiam maciçamente.
Os sofrimentos do pequeno Aleksiei formaram farto material para que Gorki escrevesse uma de suas melhores obras, mas os meninos de seu tempo apanhavam demais, por qualquer motivo e apenas ele virou escritor, os outros não. Essa constatação me faz crer que Infância seja um dos livros mais tristes que já li, sem derramar uma lágrima sequer. Mas também foi um dos melhores que já tive em mãos.