Os trinta caixões
OS TRINTA CAIXÕES
Miguel Carqueija
Resenha do romance policial “A ilha dos trinta caixões”, de maurice Leblanc. Ciranda Cultural Editora e Distribuidora Ltda., Selo Príncipe, Jandira-SP, 2021. Tradução: Luciene Ribeiro dos Santos. Título original francês: “L’ille aux trente cercueils”.
Enredo complicado, e coo sempre Leblanc recorre a tenebrosos segredos de família, fantasmas do passado que reaparecem para assombrar os vivos. O autor gosta de construir um ou dois vilões monstruosos. O problema deles é serem pouco sutis diante da esperteza de Arsène Lupin, geralmente mais inteligente que todos os demais personagens juntos. O conde polonês Alexis Vorski é no caso o “vilão terrível” e a mulher a quem ele persegue (mulheres perseguidas por implacáveis inimigos é outro clichê de Maurice Leblanc) é Véronique d’Hergemont, sua esposa. Existe o filho do casal, François, que ignora os mistérios do passado. E até mesmo um cachorro bondoso e inteligente, o Tout-Va-Bien (Tudo vai bem) que é personagem importante da trama, cujos principais lances se passam na Ilha Sarek, a Ilha dos Trinta Caixões.
Superstições, lendas druidas, conspirações modernas, tudo se mistura e Arsène Lupin custa a aparecer. Depois que ele aparece, dá a tônica da história.
Arsène Lupin costuma esconder sua verdadeira identidade com algum pseudônimo aristocrático. No livro em questão ele é Dom Luís Perenna. Sua personalidade irônica e zombeteira, porém, não muda. Apesar disso há ocasiões em que ele se mostra didático:
“A ilha de Sarek, assim como toda a França e a parte ocidental da Europa, era habitada há milhares de anos pelos chamados Ligures, descendentes imediatos dos homens das cavernas, dos quais haviam conservado em parte os usos e costumes. Grandes construtores, contudo, esses Ligures, que na época da pedra polida e sofrendo talvez a influência das grandes civilizações do Oriente, tinham erguido formidáveis blocos de granito e construído colossais câmaras funerárias.”
Afora essas explicações arqueológicas, chama atenção a verdadeira carnificina que ocorre na Ilha Sarek, como se atingida por antiga maldição; e o cerco que vai se fechando sobre Véronique. A maldição, porém, será enfrentada por Arsène Lupin e Tout-Va-Bien, que terminam como grandes amigos.
Rio de Janeiro, 26 de março de 2023.