A estranha Agência Barnett

 

Resenha da coletânea "Agência Barnett e Associados", de Maurice Leblanc. Ciranda Cultural Editora e Distribuidora Ltda., Selo Princips, 2021. Título original francês: L'Agence Barnett et Cie". Tradução: Luciene Ribeiro dos Santos.

 

A rigor Arsene Lupin não é um detetive mas um ladrão aventureiro. Eu ainda prefiro o Lupin III, que foi criado no Japão em desenhos animados e que seria o seu neto.

A presente coletânea, com oito contos interligados, conta histórias supostamente passadas antes da guerra de 1914-1918. Certo Jim Barnett conduz uma agência de investigação particular - não se pode saber quem são os associados - e estranhamente não cobra pelos seus serviços. Entretanto sempre dá um jeito ardiloso para se ressarcir à custa de algum personagem que merece ser espoliado. Certo Inspetor Bechoux fica desesperado porque Barnett - que não é senão Arsene Lupin - o auxilia na investigações e sempre obtém resultados, mas Bechoux nunca consegue impedir que ele alcance vantagem por meios irregulares.

Há um certo clichê nessas histórias em que o detetive particular ou amador descobre tudo, só ele é inteligente, e os policiais não descobrem nada e ainda se irritam.

Em "As 12 africanas de Bechoux" ocorre um furto misterioso no apartamento do financista Nicolas Gassire. As ações das Minas Africanas que pertenciam ao Inspetor Bechoux haviam sido roubadas.

Chamado às pressas o inspetor, completamente transtornado, depois de isolar o prédio almoça num café em frente com o também desesperado Gassire. Mas quando volta ao local Bechoux vê Barnnett se aproximando: "Quem contou para lembrou para ele?"

Tinha sido Gassire. Bechoux, sentindo seu dinheiro em perigo, exclama: "Mas isso é uma estupidez! Quem está liberando a investigação? Você ou eu? O Barrett não tem nada a ver com isso! O Barrett é um intruso e não é confiável!"

Ele ainda tenta expulsar o outro:

"Saia daqui. Nós não precisamos de você. Você foi chamado por engano. Deixe-nos em paz, e suma daqui."

Mas Barrett, escudado no direito de ter aulas de flauta com uma professora que morava no prédio, ignora o ultimato e entra.

É mais ou menos isso o tempo todo. Com certeza Bechoux esquece de manter a própria compostura, mesmo sendo policial.

No caso em questão Barrett localiza e devolve as ações de Bechoux mas paga a si mesmo com os títulos de Gassire, que na verdade era um escroque, absolutamente desonesto.

Lupin é a ilustração do velho ditado: "Ladrão que rouba ladrão tem cem anos de perdão".

 

Rio de Janeiro, 2 de fevereiro de 2023.