O RIO DE CARLA MADEIRA
Impressões sobre "Tudo é rio", da escritora Carla Madeira
O livro começa sensual, erótico. . . Pornográfico, até. Um leitor mais puritano talvez o abandone lá pelo capítulo 5 (são 35). Mas vai adensando, ganhando força e volume, como o grande rio que busca o mar e leva consigo seus afluentes e tributários.
A autora conduz a narrativa com a isenção possível, evitando juízos de valor. Os personagens e suas tragédias se apresentam. A dona de casa e cantora da família, Dalva, e seu marido marceneiro, Venâncio; Francisca, a samaritana e protetora de filhotes abandonados; Lucy, a puta, e Brando, seu tio e amante. Todos com suas virtudes e pecados. Ao cabo, se igualam no grande caudal.
Há afastamentos e aproximações muitos. Mas para além de meras referências a tempo e espaço. Há alegrias e prazeres em profusão. E há tristeza e dores. E são essas dores, mais o silêncio e a solidão, que moldam as personagens, curam ou remexem suas feridas e os redimem, ou condenam, ao sabor da correnteza.
Ao fim, é o perdão, sem a caretice e hipocrisia que usualmente o definem, que vem, caudaloso, lava todas as mágoas e ressentimentos e restabelece o pleno sentido de humanidade.