"Luz do mundo", uma entrevista com Bento XVI

 

“LUZ DO MUNDO”, UMA ENTREVISTA COM BENTO XVI

Miguel Carqueija

 

Resenha do livro “Luz do mundo” (subtítulo “O Papa, a Igreja e os sinais dos tempos”), entrevista de Bento XVI ao jornalista Peter Seewald. Edições Paulinas, São Paulo-SP, 2011. Título original: “Luce del mondo: il Papa, la Chiesa i segni dei tempi”, Libraria Editrice Vaticana, Cittá del Vaticano, 2010. Tradução: Paulo F. Valério. Apresentação da edição brasileira pelo Cardeal Arcebispo de São Paulo, Dom Odilo P. Scherer. Prefácio de Peter Seewald.

 

Com aproximadamente 250 páginas, este livro-entrevista que Bento XVI concedeu ao jornalista alemão, seu patrício, Peter Seewald, é muito importante por revelar aspectos da postura e do pontificado deste grande líder espiritual e teólogo, Joseph Ratzinger, o erudito e virtuoso pontífice.

É significativo que o capítulo 16 se refira às aparições de Nossa Senhora em Fátima, onde Bento XVI esteve em 2010. Embora se trate de revelações particulares, os sinais de autenticidade são tantos que os papas vêm demonstrando crer realmente que a Virgem Maria apareceu de fato a três crianças e passou a elas mensagens importantíssimas para o futuro da humanidade.

“Assim, é preciso dizer que a fé tem uma história. Evidenciou-o o Cardeal Newman. A fé desenvolveu-se. E disto faz parte também uma manifestação sempre mais poderosa da Mãe de Deus no mundo, como guia, como luz de Deus, como a Mãe através da qual podemos reconhecer o Pai e o Filho. Em nosso racionalismo e diante das ditaduras nascentes, mostra-se a humildade da Mãe que aparece a crianças dizendo-lhes o essencial: fé, esperança, amor, penitência.”

Ratzinger toca em pontos delicados no capítulo 9, “Ecumenismo e diálogo com o Islã”. Ressalvando que a confissão mais próxima da Igreja Católica é a Igreja Ortodoxa (“Católicos e ortodoxos têm a mesma estrutura fundamental da Igreja das origens; portanto é natural que me empenhe de modo particular por este encontro.”), observa como, em relação aos protestantes, a situação é bem diferente tendo em vista a multiplicidade de seitas do protestantismo.

“Quando se fala de diálogo com o protestantismo, é preciso levar em consideração esta diversificação que varia também de país a país.”

Um dado interessante é acrescentado pelo entrevistador, quando ele cita o bispo luterano Johannes-Friedrich, que aceitou o papa como “um porta-voz ecumenicamente reconhecido da cristandade mundial”.

Quanto à difícil relação com os muçulmanos Ratzinger deixa claro que existe, sim – como o noticiário constatou muitas vezes – amizade entre católicos e islamitas. O Papa Bento XVI então explicita alguns fatos importantes:

“Como certamente o senhor sabe, 138 estudiosos muçulmanos escreveram uma carta que continha um explícito convite ao diálogo com o cristianismo. Sobre este ponto, tive uma ótima conversa também com o rei da Arábia Saudita. Como também outros chefes de Estado islâmicos, e não diferentemente dos governantes dos Estados do Golfo, ele entende opor-se, juntamente com os cristãos, ao abuso do islã por parte do terrorismo.”

Há, pois, muita riqueza neste obra, embora eu entenda que um livro-entrevista só revela até certo ponto a notável figura de Bento XVI, homem de grande doçura pessoal e suave carisma, além de uma inteligência fulgurante, privilegiada, que se observa em seus textos doutrinais.

Com certeza, um dos maiores intelectuais dos séculos 20 e 21 e um homem verdadeiramente santo.

 

Rio de Janeiro, 12 e 13 de janeiro de 2023.