Pollyanna moça
POLLYANNA MOÇA
Miguel Carqueija
Resenha do romance “Pollyanna moça”, de Eleanor H. Porter. Companhia Editora Nacional, São Paulo-SP, 23ª edição, 1987. Biblioteca das Moças volume 93. Tradução: Monteiro Lobato. Título original: “Pollyanna grow’s up”, “copyright” 1912/13 de L.C. Page and Co., Inc., renovado em 1940. Capa: Silvia Maria Mesquita.
A lenda de Pollyanna é imorredoura: a menina órfã de pai e mãe que aprendeu o “jogo do contente” e vai morar em outra cidade com a tia solteirona e aristocrata, severa e mal-humorada, e mesmo assim a garota então com onze anos não se deixa levar pela tristeza e depressão, pelo contrário, procura ver o lado bom de tudo e rapidamente, com sua ternura e otimismo, contagia e cidade de Beldingsville e por fim a própria tia Polly (o nome Pollyanna é uma mistura dos nomes da mãe e da tia).
Anos se passaram após os fatos relatados em “Pollyanna”. Agora, em “Pollyanna moça”, a protagonista se tornou uma jovem adulta, muito loura e linda, embora se ache feia. Aqui os pontos continuarão se juntando, pois na obra anterior a garota consegue reconciliar a tia Polly com o Dr. Chilton, após muitos anos de desentendimento, e os dois se casaram. Além disso o garoto órfão e jornaleiro Jimmy foi adotado por John Pendleton, que no passado amara inutilmente a mãe de Pollyanna e se tornara um senhor solitário e retraído — até ganhar um filho adotivo graças ao altruísmo que Pollyanna espalha ao redor de si.
Depois de chamada para ajudar, com sua presença, certa Miss Carew, outra mulher solitária e fechada em si, Pollyanna terá de ligar outros pontos, após um período na Alemanha onde o Dr. Chilton falece, a fortuna da família de alguma forma se esvai e Polly, agora viúva, retorna a Beldingsville tão negativa e depressiva que nem o jogo do contente da sobrinha parece mais funcionar. Mas agora a tarefa miraculosa de Pollyanna inclui descobrir a verdade sobre as origens de Jimmy e de Jamie e, enfim, reconhecer que ama Jimmy e que é amada por ele. Haverá obstáculos mas d eum jeito ou de outro Pollyanna se sairá bem, pois é uma pessoa abençoada.
Típico em Pollyanna, no tempo em que morou em Boston, estranhando a vida na cidade grande, onde as pessoas pouco se conhecem, mesmo os vizinhos, ela reflete assim:
“Bem, acho que devo mostrar a essa gente que não sou nenhuma desconhecida — raciocinou ela, e prosseguiu no passeio,disposta a abordar a primeira criatura com quem se cruzasse. Foi uma senhora bem vestida.
— Que dia bonito hoje, não? — disse a menina à queima-roupa.
— Que? ... Oh, sim... está bonito, sim – respondeu a senhora sem deter-se, e lá se foi.”
Entretanto, as pessoas que se demorassem um pouco com Pollyanna logo se sentiam atraídas por seu carisma. Alguns personagens desse tipo são criaturas mágicas, como a Mary Poppins de Pamela Travers. Todavia no caso de Pollyanna a magia estava na sua bondade e na sua personalidade espontânea.
“Pollyanna” e “Pollyanna moça” são leituras imperdíveis.
Rio de Janeiro, 21 de dezembro de 2022.