Resenha - O que é existencialismo

PENHA, João da. O que é existencialismo. 14ª reimpr. 1 ed. São Paulo: Brasiliense, 2001. (Coleção Primeiros Passos; 61). ISBN 85-11-01062-0.¹

Rafael Nascimento Sena²

João da Penha já colaborou em várias publicações culturais, dentre elas as revistas Encontros com a civilização brasileira, ed Civilização Brasileira, e Socialismo & Democracia, ed. Alfa e Ômega. Traduziu, com Eliane Zagury e Carlos Augusto Corrêa, Os Primeiros Contos de Dez Mestres da Narrativa Latino-Americana, Ángel Rama. ed Paz e Terra, 1978. Em jornais e revistas publicou traduções de poetas russos, como Iessiênin, Armátova e Marina Tsviêtáiêva. Participou da Editora do extinto Suplemento Literário da Tribuna da Imprensa.

RESUMO

O autor inicia o livro contextualizando o momento histórico do surgimento do movimento filosófico existencialista, o qual adveio da experiência traumática da Segunda Guerra e dos sentimentos de desanimo e desespero que a guerra causou na sociedade. E destaca o fato de que o existencialismo ter surgido em um momento de crise foi crucial para sua rápida propagação, não apenas no meio acadêmico, mas também como estilo de vida.

Ao iniciar a conceituação de existencialismo o autor explica que, entre as décadas de 1940 e 1950, o termo “existencialismo” era tido como sinônimo de fora do usual, usado para caracterizar qualquer pessoa que desviasse das normas estabelecidas na sociedade da época. Ao discutir a origem do termo o autor conceitua existencialismo como: a doutrina filosófica que centra sua reflexão sobre a existência humana considerada em seu aspecto particular, individual e concreto. E destaca influência do pensamento de Soren A. Kierkegaard no existencialismo moderno.

Ao traçar os antecedentes filosóficos do existencialismo, o autor traz a baila a existência de vários existencialismos, cada um correspondendo a determinado autor. E esclarece que o existencialismo é uma expressão de uma experiência singular, individual, um pensamento motivado por uma situação muito particular.

O autor aponta que o pensamento de Kierkegaard, em particular, era a exata contraposição as ideias de Hegel, e insurgiu-se contra a ideia de que o individuo era mera manifestação da ideia. Segundo Kierkegaard o erro de Hegel residia na ignorância da existência concreta do indivíduo, pois acreditava que o homem é a categoria central da existência e sua existência individual serviria para ser vivida, e não explicada. Kierkeegaard exaltava o homem enquanto subjetividade e via como inimigo qualquer forma de sistema por este ser incapaz de dar conta da realidade humana uma vez que o sistema é racional e a realidade é irracional. Os existencialistas tiraram de Kierkeegaard os temas básicos para as suas reflexões.

O autor afirma que foi do pensamento de Edmund Husserl que adveio o método de análise do existencialismo, o método fenomenológico. Na acepção de Husserl a filosofia deveria ser transformada em uma ciência plenamente rigorosa. A transformação da filosofia em uma espécie de ciência das ciências passou pela crítica ao positivismo e seu apego excessivo a objetividade, pelo desenvolvimento das demais ciências e a descoberta de que a contribuição subjetiva do homem era essencial para os seus avanços. A fenomenologia surge no memento de transição entre as verdades inabaláveis e significação humana das ciências.

Esclarece o autor que intencionalidade, postulado básico da fenomenologia, é a característica fundamental da consciência, e conforme Husserl “toda consciência é consciência de alguma coisa”, ou seja, pensamentos não ocorrem no vazio. Através do método fenomenológico, Husserl pretendia superar o caráter parcial do materialismo e o idealismo. Husserl propôs a redução fenomenológica, que consistia na adoção de um abandono do mundo e recolhimento de si mesmo para que se fosse capaz de captar a essência das coisas, uma vez que, segundo ele, as ideias só existem porque são ideias sobre as coisas. Segundo Husserl, os fenômenos ao mesmo tempo que são objetivos só revelam essa condição quando se manifestam na consciência. Segundo o autor, o método fenomenológico constituiu elemento básico para o assentamento de uma ontologia existencialista.

Conforme o autor, Martin Heidegger foi o primeiro a utilizar o método fenomenológico como instrumento de análise. Heidegger recusava o termo existencialismo e se referia ao seu pensamento como analítica existencial. A analítica não se preocupava com a existência pessoal e seus problemas e caracterizava o Ser como a mais abstrata de todas as ideias, logo, não havia interesse em discutir algo que não possui definição. O seu interesse era pelo significado do Ser, a definição do ser implicaria em, obrigatoriamente transformá-lo em um ente. E para Heidegger, o problema do ente obscureceu a questão mais original, que é a questão do ser.

Heidegger observa que é a natureza existencial do homem que lhe permite representar os seres como tais e ter consciência deles, no léxico heideggeriano o Dasein representa o ente enquanto ente e com plena consciência deste ato, pois, segundo os homens são os únicos seres que existem, somente para o homem faz sentido a existência. E o fato de existir que possibilita o homem ser ou não ser o que é. A partir de tal premissa, Heidegger estabelece o homem está no mundo, mas diferente dos objetos, ele existe e é uma presença no mundo, ou seja, é um Dasein. O homem autêntico reconhece a dualidade entre o humano e o não-humano, tal inautenticidade se apresenta subjetivamente através de uma consciência individual e objetivamente de forma artificial através da tecnologia.

Para Heidegger, é na morte que o homem se totaliza, ela é a possibilidade derradeira da existência. E na angústia que o homem atinge a plenitude do seu ser pois ela o conduz ao mais íntimo de sua existência.

Destaca o autor que a participação pessoal de Jean-Paul Sartre no movimento existencialista o tornou mais duradouro e “barulhento”, fazendo com que o pensamento fosse difundido para fora do continente europeu. E salienta que, tamanha é a relevância de Sartre que seria possível estudar o pensamento existencialista contemporâneo, exclusivamente pelas suas obras.

Sartre afirma que o primeiro princípio do existencialismo é que o homem não é nada mais que aquilo que projeta ser, ou seja, a sua existência precede a sua essência. Segundo o filósofo, tal princípio vale apenas para os homens pois este é livre, não é predeterminado, a cada momento o homem tem que escolher aquilo que será no momento seguinte. Através da liberdade o homem escolhe aquilo que há de ser, escolhe sua essência e busca realizá-la. Sartre afirma que, o homem é o seu próprio projeto e só existe na medida que o realiza através de seus próprios atos; sendo a liberdade o fundamento do ser, o que constitui o homem como homem,

Para Sartre, tal liberdade não é absoluta pois o homem vive uma existência concreta, condicionada e limitada pela sociedade. Em determinados momentos, em razão das limitações imposta à livre manifestação da sua existência, o homem entra em conflito com a sociedade na qual está inserido. Já que a liberdade é a escolha, esta é o fundamento de todos os valores e quando o homem escolhe, está definindo o que lhe parece ter validade universal.

O autor destaca que Sartre defendia que o existencialismo é um humanismo pois é a única filosofia capaz de tornar a vida humana digna de ser vivia. Sartre proclamava que o homem é angústia pois, reconhecendo-se livre, percebe que não é apenas o que escolheu ser, ou seja, é condenado porque não criou a si próprio, mas é livre porque é responsável por tudo o que fizer. Sartre defendia também que o existencialismo é um otimismo pois o seu desespero obriga o homem a agir.

O autor do livro categoricamente afirma que o existencialismo não procura desvendar ao homem a infelicidade oculta de sua condição, mas ajudá-lo a enfrentá-la já que é impossível ignorá-la.

Segundo o autor, a liberdade na concepção sartreana é fonte de angústia do “para-si”. Para Sartre medo e angústia são distintos, enquanto primeiro decorre de uma coisa objetiva, determinada, a angústia brota do nada, é a consciência do nada que angústia o “para-si”, e o nada é o fundamento da angústia.

Sartre também distingue a má-fé da mentira, esta implica que o mentiroso está consciente da verdade que oculta e naquela o indivíduo mascara a verdade para si. O indivíduo que dissimula é a própria vítima da sua mentira. O indivíduo mente a si mesmo como forma de fugir à responsabilidade de suas ações. Para Sartre, diferentemente de Freud, a consciência se divide entre o ser o e o não ser, para ele, todos os atos são conscientes.

O autor tece comentários sobre a análise de Sartre sobre o sentimento de vergonha ser uma forma de atestar a existência do outro e sobre o amor, assim como as demais formas de relacionamento humano, ser conflito. E dedica alguns parágrafos à defesa das obras de Sartre, incluído suas obras teatrais e literárias.

O autor do livro também apresenta a existência outras correntes existencialistas, sendo Karl Jaspers e Gabriel Marcel os dois nomes mais representativos do pensamento, depois de Sartre. E destaca que todas as correntes escolhem a existência humana, individual e concreta como origem de sua reflexão.

O autor faz considerações sobre a evolução ideológica de Sartre o seu abandono das posições filosóficas iniciais e relaciona tais fatos com a queda do prestígio do existencialismo, uma vez que Sartre era o principal expoente de tal pensamento. Acerca das relações de Sartre com o pensamento marxista, o autor destaca que Sartre acreditava que o existencialismo poderia ser útil para o marxismo pois ambos teriam o mesmo objetivo. Para Sartre, enquanto o marxismo absorveu o homem na ideia, o existencialismo o procura onde quer que esteja. Segundo Sartre, a peculiaridade do existencialismo consiste na exaltação da singularidade do indivíduo e de cada momento histórico, tarefa à qual é perfeitamente compatível com o ponto de vista marxista.

PALAVRAS CHAVES

Existencialismo; Homem; Consciência; Ser.

JULGAMENTO

Neste livro o autor aborda de forma expositiva a história do existencialismo, a origem do termo, seus antecedentes filosóficos e suas principais correntes, dando destaque para obra de Jean-Paul Sartre.

Utilizando-se de comparações o autor navega pelo pensamento existencialista traçando paralelos entre as linhas de pensamento filosóficas, e utilizando-se de linguagem clara e objetiva como forma de resumir ao mesmo tempo que destrincha as principais ideias e conceitos existencialistas, cumprindo o seu papel de apresentar o tema ao leitor não versado na filosofia.

O autor introduz o tema de forma a facilitar a compreensão da obra sartreana, principal arcabouço existencialista, sobre o qual o autor dedica quase metade das páginas do livro, e o faz de forma eficiente, provendo ao leitor explicações, contextualizações e conclusões necessárias a compreensão dos meandres de Sartre.

Desta forma, o autor é exitoso ao apresentar o existencialismo ao leitor, além de instigá-lo a refletir a filosofia como um todo.

²Historiador - UPE, Licenciado em Língua Portuguesa - ULBRA, Bacharelando no Curso de Direito na Faculdade de Petrolina – FACAPE, devidamente matriculado na disciplina Teoria do Estado. E-mail: rafaelnasantos1388@gmail.com

Rafael Casa Nova
Enviado por Rafael Casa Nova em 29/11/2022
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