RESENHA ESPECIAL: A EXTRAORDINÁRIA JUVENTUDE DE PLINIO CORRÊA DE OLIVEIRA

RESENHA ESPECIAL: A EXTRAORDINÁRIA JUVENTUDE DE PLINIO CORRÊA DE OLIVEIRA

Miguel Carqueija

 

Resenha do livro biográfico “O dom de sabedoria na mente, vida e obra de Plinio Corrêa de Oliveira”, volume 2: “Juventude: a sabedoria posta à prova”, por Monsenhor João Scognamiglio Clá Dias. EP. Librarie Editrice Vaticana e Instituto Lumen Sapientiae dos Arautos do Evangelho, Vaticano e São Paulo-SP, 2016.

 

Volume encadernado, com sobrecapa lustrosa envolvendo com orelhas a capa dura, é uma obra monumental, mesmo considerando apenas o volume II, imaginem o conjunto de cinco volumes.

O Dr. Plinio Corrêa de Oliveira, advogado, falecido em 1995, foi um dos maiores pensadores católicos da História do Brasil, que viveu já numa época de duras provas para o Catolicismo. Deixou inúmeras obras e intensa colaboraçãono jornal “Catolicismo”. Era extraordinariamente fiel à ortodoxia da Fé Católica num tempo de relativismo até doutrinal, em suma, um dos baluartes da Igreja Católica no Brasil, com Gustavo Corção e sacerdotes como o Padre Leonel Franca e os atuais Padre Paulo Rivardo e Padre José Augusto. Note-se que o Dr. Plinio era também excelente escritor.

Este livro revela fatos surpreendentes sobre a juventude aristocrática de São Paulo nos anos que se seguiram à Primeira Guerra Mundial. Havia um diferencial absurdo entre as moças e os rapazes.

Plinio, mesmo à custa de grande esforço, conservou a virgindade, apesar dos maus exemplos à sua volta — e nós pensamos que havia muita moral na década de 1920! O autor cita as “Notas autobiográficas” de Plinio, onde ele fala de suas observações: “O impuro, quando acordava pulava da cama e já começava a querer se mover, dando sinais de uma consciência desassossegada. Ele não tinha os estados de transição, pelos quais se passa com nobreza e delicadeza, sem excessos. Os meninos impuros não comiam muito durante as refeições, mas depois, em horas malucas, tinham acessos de gulodice e se serviam de modo intemperante. Às vezes, eu os via em alguma confeitaria: mandavam vir três, quatro ou cinco empadas de uma vez e comiam precipitadamente, bebendo depois um refresco às pressas. Eu via que eles queriam satisfazer certo vazio interior, o que os levava a se empanturrarem”.

A sensualidade podia não dominar as meninas e as mulheres mas entre os homens, desde garotos, era o império do sexo libertino. É custoso acreditar, mas a narrativa sóbria não deixa lugar a dúvidas. É ainda Plinio quem fala:

“Outra era havia raiado, em que as convenções antigas não tinham mais cidadania e na qual só tinha circulação a porcaria. E a nós, meninos de famílias abastadas cabia esse único prazer, não havia outro na vida. Estudos, brio, honra... Ah! Tudo passou! Se alguns trabalhavam era para ter dinheiro para praticar a sensualidade; se outros queriam aparecer era para ter títulos para conquistar melhor aquelas com quem quisessem praticar a sensualidade. O sentido da vida era a sensualidade, não havia outro.”

Vejamos agora o que diz o próprio Monsenhor Clá Dias (pg. 58/59):

“Por verdadeiro absurdo, esta virtude (refere-se à castidade) era exigida com toda a ênfase apenas às mulheres. Elas deviam permanecer virgens até o casamento, e duvidar deste atributo em alguma moça era considerado insuportável afronta. Também as esposas eram meticulosamente fiéis e em ambos os estados eram tomados todos os cuidados para preservar a honestidade de costumes. Já para os homens, a coisa era bem diferente. Aqueles varões cheios de compostura haviam sido meninos impuros e, na intimidade, não escondiam sua vulgaridade nem se envergonhavam de conversar sobre as imoralidades que praticavam.

Todos conheciam esses desvios e não havia a menor resistência contra eles. Inclusive do alto dos púlpitos, se era feita a apologia da virgindade como atributo indissociável das moças cristãs, pairava um misterioso silêncio sobre sua exigência para os jovens varões... Assim, ao transpor o umbral dos quinze anos, aqueles meninos, que já eram impuros, começavam a frequentar os mesmo ambientes que seus pais, sem ninguém se escandalizar.”

Em sua adolescência e juventude, portanto, Plinio teve de resistir com todas as suas forças contra o ambiente impuro que o rodeava, numa alta sociedade que ainda se dizia católica. Ele tinha o apoio de sua virtuosa mãe, Dona Lucilia, fora isso, pouco apoio de familiares e colegas. Afinal, era uma abjeta tradição que aos domingos, após o jantar, aqueles rapazes partissem em bandos para os lupanares.

Plinio Corrêa atravessou esses anos no isolamento, enfrentando zombarias e estranhamentos. Formou-se como advogado e entrou para a Mocidade Católica, movimento cuja descoberta foi uma verdadeira bênção.

Se me demoro nesse início do livro — repleto de fotografias e quase 400 páginas — é porque essa imensa luta em meio às angústias do isolamento e impopularidade ilustra bem o estofo do grande líder católico que marcou a história da Igreja Católica no Brasil durante o século 20, tendo sido ele, de fato, um dos nomes fulgurantes do nosso laicato católico.

Em 1956 o autor do livro, Monsenhor João Scognamiglio Clá Dias, travou conhecimento com o Dr. Plinio Corrêa. Naquele tempo, porém, Clá Dias era discípulo de Plinio; bem mais tarde tornou-se seu esmerado biógrafo.

Os caminhos de Deus são admiráveis.

 

Rio de Janeiro, 13 a 17 de outubro de 2022.