História do Império - de João Camilo de Oliveira Torres
Nos anos 1960, a Distribuidora Record publicou uma série de livros, para jovens, e um dos escritores convidados a escrever um volume, e que muito se felicitou com o convite, ciente da importância da consciência histórica de um povo, que, unicamente conhecendo seu passado, pode construir o seu futuro, foi João Camilo de Oliveira Torres, consagrado historiador brasileiro, um dos maiores que o Brasil já conheceu, autor do monumental, e premiado, A Democracia Coroada, profundo conhecedor da história do Império, momento histórico ao qual dedicou toda sua vida, admirador dos imperadores - e neste pequeno, e valioso, História do Império, magro, e bem nutrido, volume, de um pouco menos de cem páginas, ele não cuida de conter sua admiração por Dom Pedro II, e outras figuras imperiais, e a ele rasgar elogios, os de um autêntico apaixonado por tal personagem, raro exemplar de homem público pobro e que amava o Brasil.
Conta a edição com ilustrações, em preto e branco, com arte de Armando Pacheco Alves, de páginas inteiras, que retratam, dentre outras personagens do Império, o Príncipe D. João, Bernardo Pereira de Vasconcelos, Dom Pedro II, Duque de Caxias, Joaquim Nabuco, D. Isabel. Tem vinte e um capítulos.
É o estilo do autor direto, limpo, claro, enxuto, sem ser desgracioso, raquítico.
Fala o autor de Martim Afonso de Souza, e das Minas Gerais, e de D. Maria I, de Portugal, de sua morte. E da Regência do Príncipe Dom João; e da ação imperialista de Napoleão, que o fez transferir, de Lisboa, para o Rio de Janeiro, a capital do Império Português, para as terras brasileiras, além da Família Imperial a tiracolo, trazendo as suas tralhas. E que tralhas! Eram tralhas imperiais. De imenso valor. É, agora, o Brasil a sede da Monarquia Portuguesa.
A presença, em terras brasileiras, da Família Real, elevou o Brasil, que agora não era uma possessão portuguesa ultramarina, à parte integrante do Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves, o que descontentou muitos portugueses. Sucederam-se as revoluções, que obrigaram D. João VI a regressar a Portugal, aqui em terras brasileiras deixando seu filho, o Príncipe Dom Pedro, Regente e Lugar-Tenente de Sua Majestade, que veio a se tornar, impetuoso que era, um herói nacional. Casa-se Dom Pedro, o primeiro do Brasil, com D. Leopoldina, e enfrenta as Cortes Gerais, cuja política, se vitoriosa, poderia vir a dividir o Brasil em uns cinco países, que, independentes, seriam servis a Portugal, desmembrando-se, assim, o grande filho americano de Portugal. Muitos eram os deputados inimigos de Dom Pedro I, que, diante das adversidades, o Brasil na iminência de se matar em guerras fratricidas, não lhe restando outra alternativa, para conservar íntegro o Brasil, deste declarou, às margens do Ipiranga, no dia 7 de Setembro de 1.822, a Independência, para os brasileiros entregando um ultimato: ou a independência do Brasil, ou a morte. E é Dom Pedro I aclamado Imperador. E ele enfrenta inúmeros aborrecimentos, e contratempos sem fim. Não foi o seu reinado isento de ameaças à integridade territorial brasileira. Sucederam-se as revoltas. A Confederação do Equador quase veio a dividir o Brasil em dois, e um de seus líderes, Frei Joaquim do Amor Divino Caneca, juntamente com outras personalidades de menor expressão, foi condenado à morte.
Se era novo o país, o país tinha de ter seus símbolos, sua bandeira, seu hino, e deste, que é o da Independência, o Imperador Dom Pedro I escreveu a música, e deixou a cargo de Evaristo da Veiga a composição da letra. Uma Constituição para o Brasil foi escrita, a de 1.824.
E sucederam-se as revoltas.
E morre D. João VI. Seu filho, o Imperador do Brasil, assume o título de Rei de Portugal, e deste abdica em benefício de D. Maria da Glória, sua filha. Outros episódios da vida do Rei Cavaleiro sucedem-se num roldão, até que, enfim, ele entrega o trono ao menino, seu filho, que ainda vestia fraldas, e que - a maioridade antecipada com a destituição do regente Araújo Lima - ainda moço imberbe, viria a se tornar o Imperador Dom Pedro II.
O Império brasileiro segue a enfrentar incontáveis dificuldades: a guerra dos Farrapos, a guerra do Paraguai, revoltas inúmeras, e outros males que a natureza brasileira impunha. Para enfrentá-los, conta com o General Osório, o Duque de Caxias, o Almirante Tamandaré, o Conde d'Eu, e outros homens corajosos, ilustres, que não fugiram às suas responsabilidades históricas: encararam-las com denodo incomum. Enfrentaram os heróis brasileiros o ditador Rosas e o ditador Francisco Solano Lopez, e dos embates saíram vitoriosos.
Enfrenta o Brasil crises e crises e crises, o trabalho escravo, o federalismo, a política para se conservar a integridade nacional em harmonia com a descentralização administrativa, os entreveros parlamentares entre o Partido Conservador e o Partido Liberal, que de nenhum jeito se bicavam, tais quais gato e rato, e a Questão Christie, que chegou a bom termo.
É o livro acessível aos leigos, aos jovens para os quais João Camilo de Oliveira Torres o escreveu, às crianças. A linguagem é simples, e bem-humorada, de um talentoso contador de histórias - e é João Camilo de Oliveira Torres um ótimo contador da História do Brasil.
Para encerrar esta resenha, direi algumas palavras, poucas, do último capítulo, o 21, cujo título é, como não podia deixar de ser, "A Abolição". Neste, conta João Camilo de Oliveira Torres: com a Proclamação da República, toda a Família Real foi obrigada a deixar o Brasil e todos os descendentes de Dom Pedro I proibidos de pisar em solo brasileiro, injustiça, esta, anulada pelo presidente Epitácio Pessoa; no Brasil se promulgou, ainda no Império, a Lei Eusébio de Queiroz, a Lei do Ventre-Livre, a Lei dos Sexagenários, e a Lei Áurea; em homenagem ao Papa Leão XIII muitos donos de escravos alforriaram seus escravos, e o Sumo Pontífice escreveu uma Encíclica aos Brasileiros; Dom Pedro II condecorava, com a Ordem da Rosa, quem libertava seus escravos; e os filhos de D. Isabel mantinham um jornal abolicionista, o Correio Imperial, e era André Rebouças, o engenheiro, mestre deles. Tais curiosidades pintam a Família Imperial com cores diferentes das com as quais a pintam os historiadores de hoje em dia, que em sua ânsia de denegrir a Monarquia não se vexam de reescrever a história brasileira sob o prisma de ideologias malsãs.
História do Império é um livro que se lê com agrado. João Camilo de Oliveira Torres, escrevendo para jovens um trabalho simples, singelo, não lhes sonega informações que lhes permitem compreender a complexa política brasileira, sempre às voltas com as suas revoluções, políticas separatistas, e divergências que não raro ficam a ponto de descambarem na anarquia. Em suma, para João Camilo de Oliveira Torres são inteligentes os jovens, para os quais o livro ele escreveu.