Obras de Álvares de Azevedo (Lira dos 20 Anos, Macário, Noite na Taverna, Conde Lopo, O Poema do Frade, Poesias Diversas)
"Lira dos Vinte Anos" (1853) é provavelmente o livro mais importante da minha vida! Eu o li pela primeira vez nos meus 15 anos e fui tragado por versos eloquentes e sentimentais como eu jamais lera antes, sendo levado imediatamente ao imensurável mundo da Poesia, de onde nunca mais saí. Este foi o único livro editado e organizado por Álvares de Azevedo, e mesmo assim só foi publicado postumamente como as suas outras obras. O poeta faleceu precocemente em 1852, quando contava 20 anos. Inicialmente este livro faria parte do projeto conjunto "As três liras" com os poetas Bernardo Guimarães e Aureliano Lessa, mas que acabou não indo pra frente.
Sua obra apresenta duas faces distintas, uma binomia: Ariel e Caliban (como diz o próprio autor fazendo referência a dois personagens da peça "A tempestade", de Shakespeare). Na primeira face, a de Ariel, temos o poeta melancólico, "platônico e visionário", que idealiza o amor e a mulher, colocando-a como um ser divino, onírico, sublime e inalcançável. E na segunda face, a de Caliban, temos o poeta irônico, mórbido e até às vezes alegre, que chega a satirizar o próprio sentimentalismo da primeira face. “Lira dos Vinte Anos” é um livro de poemas dividido em três partes: na primeira e na terceira nota-se a face angelical de Ariel: os versos são doces, sensíveis e de uma beleza triste que faz com que não saibamos se choramos ou se rimos ante um lirismo tão encantador. Na segunda parte do livro, aparece a face demoníaca de Caliban: os versos são sarcásticos, mordazes e mais próximos de uma escrita realista, sem idealizações e adornos poéticos.
Este é geralmente considerado o seu livro de maior relevância, por melhor expor as suas duas faces, a sua habilidade na escrita e os conhecimentos de ávido leitor. E de fato, é uma obra essencial para amantes de poesia e importantíssima para Literatura Brasileira. Álvares de Azevedo foi o autor romântico brasileiro mais expressivo. Além deste livro, sua curta, porém riquíssima obra, conta também com "Noite na taverna", "Macário", "Poesias diversas", "Poema do Frade", "O Conde Lopo", "O livro de Fra Gondicário", "Cartas"; além de traduções, ensaios e discursos.
"Macário" (1855) é uma obra dramática e, conforme o próprio autor, "esse drama é apenas uma inspiração confusa, rápida, que realizei à pressa, como um pintor febril e trêmulo." Foi escrita após o autor sonhar que conversava com Satã, e tal obra nos mostra o encontro de um jovem estudante de direito chamado Macário (provavelmente o próprio poeta) com Satã. O drama é claramente influenciado por Shakespeare, por Byron e pelo "Fausto" de Goethe; e apesar de ser apenas um esboço, conforme nos diz Álvares de Azevedo no prefácio; ela é muito relevante para o Romantismo nacional e possui páginas das mais eloquentes da literatura brasileira. E, novamente, nota-se as suas duas faces distintas, apresentadas em Lira dos 20 anos: o irônico e macabro Macário, e o melancólico e sentimental Penseroso, que morre por amor.
"Noite na taverna" (1855) é um livro de contos fantásticos, em que cinco jovens estudantes, bêbados numa taverna, narram histórias suas, geralmente em clima tétrico, satânico, de sonho e mistério, e que envolvem traição, assassinato, incesto, necrofilia, canibalismo, adultério, libertinagem, corrupção e morte por amor. É um exemplo perfeito do "mal do século" e da literatura gótica no Brasil. Os terríficos contos de "Noite na taverna" foram supostamente inspirados no livro "Noches Lugubres", publicado em 1771, pelo espanhol José Cadalso, e, por sua vez, as "Noches Lugubres" são uma imitação de "Nights", obra do autor pré-romântico inglês Young. E "Noite na taverna" de Álvares também gerou algumas imitações tais como o conto “A confissão do moribundo”(1856), de Lindorf Ernesto Ferreira França, a novela "Genesco: vida acadêmica"(1862) de Teodomiro Alves Pereira, o romance "Dalmo ou Os mistérios da noite"(1863) de Luís Ramos Figueira e "A Trindade Maldita"(1862), de Franklin Távora.
“Poesias Diversas” conta com poemas belíssimos do mesmo estilo “Lira dos Vinte Anos”, e há algumas poesias famosíssimas, principalmente “Se eu morresse amanhã”, um dos seus poemas mais conhecidos.
"O poema do frade" (publicado em 1855) é uma narrativa inacabada em cinco cantos, em versos decassílabos. Nos cantos I e II as estrofes são em oitavas, e nos III, IV e V em sextetos. A premissa do poema parte de um frade devasso que narra a história do infausto amor entre um poeta libertino chamado Jônatas e a bela cortesã Consuelo.
"O Conde Lopo" (publicado em 1886) é uma longa narrativa também incompleta, dividida em oito cantos, e conta uma história trágica, envolvendo amor, traição e morte, que é encontrada num livro em versos de um poeta morto, o Conde Lopo. O protagonista guarda um segredo do passado, o que o faz viver melancólico: a donzela que ele amara, Madalena, havia se casado com o seu irmão em sua ausência, e por isto ele se torna um sedutor que corrompia e destruía as donzelas que o amavam.
Ambos os poemas, "O poema do frade" e "O Conde Lopo", são tipicamente byronianos, estando repletos da ironia ácida, a morbidez sombria e o satanismo romântico de Lord Byron. Esta edição é bem simples e em alguns momentos a formatação pode incomodar um pouco a leitura, mas é uma publicação de grande relevância por conter “O Poema do Frade” e “O Conde Lopo”, duas obras que são quase desconhecidas e foram publicadas poucas vezes. O que é explicável, talvez por serem considerados rascunhos, que não tiveram tempo de ser revisados, e encarados muitas vezes pela crítica como meras tentativas confusas de imitação de Byron. Mas os poemas tem o seu valor para fãs da obra azevediana e são essenciais para conhecer o lado mais obscuro do poeta.