Rui & Nabuco - de Luiz Viana Filho.
É esta pequena biografia de dois dos maiores heróis do Brasil um, dir-se-ia, e incorretamente, volume, e de dimensões reduzidas, de Vidas Paralelas, de Plutarco, que, ao contrário do biógrafo e historiador Luiz Viana Filho, que na obra cujo nome está no título desta resenha escreveu acerca de dois heróis de um mesmo povo, o brasileiro, biografou, há dois milênios, as vidas de heróis de dois povos, o grego e o romano, comparando-as, em cada volume, uma de um herói grego e uma de um herói romano, sendo o mais famoso deles o que conta as vidas de Alexandre e César.
É o volume do historiador brasileiro uma edição comemorativa dos cem anos de nascimento de Rui Barbosa e Joaquim Nabuco, personagens nacionais que o destino escolheu para nascerem no mesmo ano de 1849. De origem distintas, Nabuco filho e neto de senadores do Império, Rui, de pais simples, de poucas posses, viveram em ambientes que suas fortunas, a daquele muita, a deste pouca, lhe permitiam usufruir, este, a enfrentar dissabores e adversidades sem conta,aquele a gozar de facilidades incomuns.
É vívida a reconstrução historiográfica que Luiz Viana Filho, num estilo bem cuidado, que faz juz aos nomes dos biografados, pôs em papel, respeitosamente, com o carinho devido aos dois homens que se bateram pelo bem de seu país e de seu povo, em defesa de reformas imprescindíveis à saúde da sua terra, o Brasil,que tanto amavam.
Unia Joaquim Nabuco e Rui Barbosa a admiração recíproca, ambos os dois cientes da grandiosidade um a do outro, e da própria - eram ambos suficientemente inteligentes para se conhecerem cada um a si mesmo, integralmente. Não se invejavam, jamais desejaram um a perdição do outro ao perceberem que se eram um do outro rivais - a rivalidade jamais os fez descer ao nível do desapreço, do rancor, de sentimentos negativos. Eram sinceros em todas as manifestações de apreço, respeito e amizade filial que trocavam afetuosamente.
Conheceram-se em São Paulo; foram condicípulos, ainda estudantes; o tempo de convívio foi pouco, e o suficiente para conservarem uma amizade que perdurou até o passamento de Joaquim Nabuco,completada a primeira década do século XX - e seu amigo, o Águia de Haia, treze anos depois, seguir-lhe-ia os passos rumo ao destino de todos os seres vivos.
Está o livro (Rui & Nabuco, de Luiz Viana Filho, edição ilustrada, impresso em 1949, volume 64 da coleção Documentos Brasileiros, publicado pela Livraria José Olympio Editora), que tem duzentas e trinta páginas, dividido em três capítulos - e conta com um anexo (não sei se é certo assim dizer). O primeiro capítulo, Rui & Nabuco, é o que trata da vida de Rui e Nabuco, e da amizade havida entre eles - vai da página 17 até a 102. No segundo capítulo, que se inicia na página 103 e se encerra na página 193,
Rui Barbosa e o "O Papa e o Concílio".", conta-se os contratempos que teve Rui Barbosa de enfrentar devido ao prefácio que escreveu para, e a tradução que fez de, O Papa e o Concílio, livro cuja recepção pelas autoridades católicas não foi muito calorosa; e segue-se, a partir da página 194, o terceiro capítulo, Rui Barbosa e o Ano de 81, até a página 210, dando a saber o que se passou, no ano 1881, com Rui Barbosa; e abre o livro espaço para o que eu digo, não sei se corretamente, ser um anexo, a partir da página 211, e estendendo-se até a página 230, Uma Polêmica de Rui, cujo tema é a inimizade havida entre Rui Barbosa e seu tio Luis Antônio Barbosa de Almeida - eles viviam tais quais gato e rato, e não se bicavam.
Dos dois heróis brasileiros que dão título ao livro, o primeiro participa de todos os capítulos, e o segundo apenas do primeiro, onde recebe tratamento condigno e equivalente ao que o autor dedica ao seu colega e amigo. Senti, no livro, um incômodo desequilíbrio no tratamento dedicado aos dois biografados; senti a falta de um capítulo com as aventuras de Nabuco em sua luta em favor dos negros escravos, por quem ele tanto lutou. Tal desnível no tratamento às duas nobres personalidades brasileiras não desmerecem o biógrafo.
É a obra de Luiz Viana Filho de comemoração de uma efeméride, a do centésimo ano de nascimento de Rui e Nabuco; é uma obra, direi, e sem desdouro do autor, apressada, o que não o fez negligente, descuidado, relapso.
Além dos dois heróis, temos, também, a animar o livro, o Barão do Rio Branco, herói brasileiro que também recebeu de Luiz Viana Filho uma biografia, esta encorpada, e Graça Aranha, dentre outros.
Conhecemos, com a leitura do livro, algumas curiosidades acerca da presença de Rui Barbosa em Haia, a Notas Condidencias, de Joaquim Nabuco, a luta de Rui Barbosa em prol da Igreja livre no Estado livre, as diferenças políticas entre Nabuco, monarquista e reformista, e Rui, republicano e revolucionário, diferenças que jamais os puseram em rota de colisão e tampouco lhes inspiraram sentimentos de aversão recíproca, e outros episódios significativos das histórias de dois homens nobres, valorosos, histórias que se confundem com a do Brasil na segunda metade do século XIX e princípios do XX.
E presenteia os leitores o autor com muitas cartas de Rui Barbosa, Joaquim Nabuco e outros personagens.
Estas são as poucas palavras que tenho para escrever do livro de Luiz Viana Filho, livro que está a contar, há mais de setenta anos, em poucas, e ilustrativas, palavras, a história de dois homens que muito admiro, dois heróis brasileiros.