Assimetria vs simetria

Terminei o livro "Leviatã desperta", de James A. Corey.

O calhamaço, em que a primeira temporada da série "The Expanse" se baseia, é escrito de forma leve e objetiva, com capítulos curtos e que seguem a estratégia de R. R. Martin de variar entre a visão de um grupo fixo de personagens. Neste caso, entre o capitão Holden e o detetive Miller.

A leitura mostrou como a série de TV foi primorosamente adaptada e que os personagens adicionais colocados nela, ao invés de comprometerem a história, a enriqueceram ajudando a que o universo fosse melhor apresentado.

Como o próprio autor destaca numa rápida entrevista disponibilizada como um extra ao final do livro, o principal eixo dinâmico na história é o embate entre os valores de sinceridade quase absoluta de Holden, um idealista que acredita na humanidade e que ela com todas as informações tenderá sempre a decisões corretas. E o perfil cético e desconfiado de Miller, que acredita que a assimetria de informações é um caminho mais seguro e menos propenso a que poderosos e interesses ocultos se aproveitem da humanidade, tão bem como a subjugue.

Uma disputa que poderia representar o embate clássico entre a mídia ideal (que não existe, vendida que é a partidos e ao establishment) no uso de sua liberdade de expressão, comunicando às pessoas comuns aquilo que precisam saber para embasar suas opiniões e decisões político, sociais e eleitorais, e as agências estatais de inteligência ideais, que coletando e tratando dados de forma secreta, buscando garantir que o Estado e a soberania nacionais sejam preservados. Mas num processo que não envolve a população como um todo de forma direta, a deixando propositalmente no escuro para sua própria proteção.

Um ótimo livro. Pena que não há nem mesmo previsão de que os outros volumes da trilogia sejam publicados no país.