O bispo da Eucaristia

O BISPO DA EUCARISTIA

Miguel Carqueija

 

Resenha do livro “Dom Leme, bispo da Eucaristia”, pelo Padre João Piasentin, SSS. Edição particular, 1982. “Nihil obstat” de 3/11/1981, de Dom Romeu Brigenti, Bispo Auxiliar e Vigário Geral da Arquidiocese do Rio de Janeiro.

 

O autor deste livro simples e despretensioso, porém honesto, resgata um grande número de fatos em torno de um sacerdote que marcou a história da Igreja Católica no Brasil. Dom Sebastião Leme da Silveira Cintra foi um prelado exemplar e dinâmico, que deu um grande alento ao Catolicismo, um testemunho de Fé valiosíssimo, como um verdadeiro servo de Jesus Cristo.

O livro em questão é na verdade um opúsculo e baseado na obra “O Cardeal Leme”, da Irmã Maria Regina do Santo Rosário, OC, e foi impresso nas oficinas gráficas da Editora Vozes, de Petrópolis, no ano do centenário de Dom Leme, nascido em Espírito Santo do Pinhal, no Estado de São Paulo. Dom Leme foi o segundo cardeal do Rio de Janeiro, depois de Dom Joaquim Arcoverde.

Foi bispo auxiliar de Dom Arcoverde, depois Arcebispo de Olinda, em Pernambuco, depois retornou ao Rio como Arcebispo Coadjutor. Com a morte de Arcoverde, Dom Leme tornou-se o novo Cardeal do Rio de Janeiro.

Ele já era, nessa época, notável pelo seu trabalho apostólico, que incluiu, por exemplo, estabelecer a Adoração Perpétua do Santíssimo Sacramento na Igreja de Sant’Anna — ou seja um local onde, 24 horas por dia, há pessoas adorando o Cristo na Hóstia Consagrada. Mas nessa ocasião, retornando de Roma, o novo cardeal “encontrou o país totalmente convulsionado pela chamada ‘Revolução Outubrista’”. A rebelião que levou Getúlio Vargas ao poder teve relação com o assassinato de João Pessoa, Presidente da Paraíba (naquele tempo os governadores eram chamados presidentes) em 26 de julho de 1930.

O governo de Washington Luís estava perdido, porém o presidente não queria se render. Ao que tudo indica, cercado no Catete, Washington Luís is ser morto pelas forças rebeldes.

“Depois de consciencioso exame da situação, Dom Leme tomou a resolução de trabalhar com afinco pela paz, sem se envolver com as partes em litígio. Queria evitar o uso das armas.

Entrevistou-se com o Presidente da República, mas malogrou na tentativa de dobrar-lhe a resistência.

Desdobrou-se no esforço de evitar o confronto armado: o País inteiro apelava para a ele como o único capaz de manter a paz.

Após mais uma malograda visita ao Presidente, achou que precisava salvar-lhe a vida.”

Conseguindo se impor ao respeito das tropas, Dom Leme logrou retirar Washington Luís são e salvo, impedindo o derramamento de sangue. E o Padre Piasentin completa:

“A 24 de outubro de 1930 o Brasil foi salvo pelo Cardeal Leme.”

Foi também Dom Leme quem obteve do Papa Pio XI a consagração do Brasil a Nossa Senhora Aparecida.

E ainda existe a majestosa estátua do Cristo Redentor no Corcovado, idéia original do Padre Bos, que Dom Leme assumiu e levou a termo, inaugurando-se o monumento em 12 de outubro de 1931.

Ao longo do opúsculo aparecem muitas declarações de Dom Leme, em caixa alta — que atestam a grandeza daquela alma de escol. Vejam estas palavras fortes: “Em nossos dias é padre o que é apóstolo e só é apóstolo o que diz: quero propagar a verdade e defender o Cristo em toda parte e por todos os meios de que sou capaz”.

Leitura sadia e nobre, que conta a história de um grande sacerdote e um grande brasileiro.

 

Rio de Janeiro, 30 de maio de 2022.