Os super-heróis e a Ciência
OS SUPER-HERÓIS E A CIÊNCIA
Miguel Carqueija
Resenha do livro “A ciência dos super-heróis”, por Lois Gresh e Robert Weinberg. Ediouro, Rio de Janeiro-RJ, 2005. Tradução de Domingos Demasi. Título original: “The science of superheroes”, John Wiley & Sons, Inc. Introdução de Dean R. Koontz.
Este livro traz informações interessantes sobre o fenômeno dos super-heróis, que seriam, com seus gibis, “uma exclusiva invenção americana” (norte-americana, aliás estadunidense). Isso não é rigorosamente verdade, porque Fantomas já existia no Japão, onde depois surgiram Astroboy, Nacional Kid e Sailor Moon. Mas em geral eles são sim um gênero “made in U.S.A.”, e que se tornou uma espécie de vício, pegando crianças, adolescentes e adultos, sem distinção.
Em criança li alguns artigos do eminente Bispo Fulson Scheen sobre Jesus Cristo. E ele lamentava que hoje em dia (década de 1950) as crianças eram levadas a admirar não os milagres de Jesus, mas os do Super-Homem. Faz sentido pois o Super-Homem, além de fictício, é um herói materialista e seus “milagres” são poderes pseudo-científicos.
O primeiro capítulo fala mesmo do Superman, que segundo a antiga propaganda é “mais poderoso que uma locomotiva”. A força do nativo do planeta Krypton é questionada: “O Super-Homem parece pesar aproximadamente 100 kg. Um atleta no auge de sua forma física consegue apenas erguer o peso de seu próprio corpo. Correr e jogar um objeto pesado talvez não fosse tão fácil assim. Para o nosso estudo, vamos admitir que o Super-Homem é mil vezes mais forte que um terráqeuo comum. Isso significa que ele seria capaz de erguer 100 toneladas”. Prosseguindo o texto esclarece que, quem consegue erguer cem quilos na Terra ergueria 600 na Lua, em razão da menor gravidade. Portanto, para o Super-Homem ser mil vezes mais forte na Terra do que em Krypton, “este planeta teria de ser mil vezes mais pesado do que a Terra”.
O cálculo matemático em seguida revela que tal planeta teria três mil vezes a massa do Sol. “De acordo com as leis básicas da física, Krypton é impossível.”
Eu não preciso ir tão longe. Questiono, por exemplo, como é que nunca perceberam que Clark Kent não pode ser vacinado, pois nenhuma agulha penetraria em sua pele. Além disso nunca se arranha, nunca se machuca.
Os autores são mais generosos com Batman, pois sua tecnologia é verossímil; todavia difícil de engolir é que as tais bat-cordas dêem certo. Uma vez observei ao saudoso monge beneditino Dom Ireneu Penna, que tinha lido algumas revistas do Batman, que o mesmo agia dentro do plano natural. Ao que Dom Ireneu observou que “para agir dentro do plano natural tem que respeitar as leis da Física”.
O livro fala também em Hulk, Homem Aranha, os X-Men e outros. No caso do aracnídeo, mostra bem que os tais “poderes de aranha” (vindos da picada de uma aranha radioativa) são inverossímeis já que aranhas não são especialmente fortes e nem velozes. Resta verossímil apenas o poder de subir pelas paredes, mas o Homem Aranha sequer produz as teias que ele lança pelos dedos, aquilo é um aparelho oculto em seu uniforme.
Em suma o livro é bem aliciante. Eu apenas quero acrescentar que, no atual estado, os super-heróis DC e Marvel são pura difusão de violência, ódio e teratologia, não são edificantes. Eram mais inocentes em épocas passadas.
Rio de Janeiro, 15 de junho de 2022.