A biografia do Papa Francisco

A BIOGRAFIA DO PAPA FRANCISCO

Miguel Carqueija

 

Resenha do livro “A vida de Francisco”, por Evangelina Himitian. Subtítulo: “O Papa do povo”. Editora Objetiva, Rio de Janeiro-RJ, 2013. Tradução de Maria Alzira Brum Lemos e Michel Teixeira. Título original argentino: “Francisco, el papa de la gente”. Capa: adaptação de Barbara Estrada sobre “layout” original de Raquel Carré. Imagem de capa: Getty Images/Christopher Furlongi.

 

É provável que esta seja a primeira biografia sobre o Papa Francisco, pois saiu no ano do conclave que o elegeu. É importante pois trata da sua história anterior, das origens de família ao cardinalato. Jorge Maria Bergoglio era um cardeal diferente. Logo na primeira página a autora assim se refere à partida de Bergoglio da Argentina para o conclave que escolheria o sucessor do papa resignatário, o grande Bento XVI:

“Chegou ao aeroporto com pouco mais de duas horas de antecedência. Foi sozinho, como fazia toda vez que voava a Roma. Saiu da cúria portenha com uma mala e sua pasta preta como bagagem de mão. Atravessou a Plaza de Mayo e subiu em uma van da empresa de transportes Manuel Tienda León, que o levou até o aeroporto. Antes de partir, despediu-se dos seus, como sempre. Como quem vai e volta.”

Segundo a biógrafa, Bergoglio foi o primeiro dos cinco filhos de Mario José e Regina Maria. Os demais são Oscar, Marta, Alberto e Maria Elena — e somente a última era viva quando da eleição papal de seu irmão.

O livro tem mais de 200 páginas e relata muitas coisas significativas, como o fato pouco conhecido de que a devoção a Nossa Senhora Desatadora de Nós foi trazida por Bergoglio da Alemanha para a Argentina e daí essa singela devoção se alastrou e hoje é bem conhecida no Brasil. O cardeal vira uma imagem atribuída ao pintor Johann Geog Melchior Schmidtner, datada de 1700 (não sei se a data está perfeitamente estabelecida) e que mostrava a Virgem Maria cercada de anos e desatando nós.

No centro do livro vemos um grande número de fotografias que mostram o biografia da infância ao papado.

Infelizmente a autora comete um deslize na página 128 ao falar do conclave de 2005, quando da morte de João Paulo II e consequente eleição de Joseph Ratzinger: “Bergoglio era candidato”. Ora, ninguém se candidata a papa; isso é até proibido. Tanto que nenhum cardeal faz campanha e eu não acredito que algum deles queira um peso desses nas costas. É o Espírito Santo que age nas eleições papais.

O livro também se demora nos anos de chumbo da ditadura estabelecida na Argentina após a queda de Isabelita Perón. Falsamente acusado de colaborar com o regime, Bergoglio na verdade se esforçou em salvar vidas perseguidas.

Infelizmente o livro apresenta algumas impropriedades. A autora, na página 198, lavra uma tolice: “Nos dias seguintes, Francisco se juntou de surpresa à missa celebrada (sic) pelos jardineiros do Vaticano...” Ora, só padres celebram missas. Evidentemente os jardineiros estavam assistindo.

Apesar de algumas falhas amadoras como essa, o livro é valioso pela quantidade de informações sobre este que é sem dúvida um dos grandes líderes morais deste século.

 

Rio de Janeiro, 27 de fevereiro de 2022.