A poesia de Aparecida Ramos
A POESIA DE APARECIDA RAMOS
Miguel Carqueija
Resenha do livro “A outra, eu e a poesia” (Poesia & Prosa), de Aparecida Ramos. Sal da Terra Editora, João Pessoa-PB, 2021. Prefácio: Antenor Rosalino. Capa: imagem Pinterest.
Conheci Aparecida Ramos da Silva depois que entrei no Recanto das Letras em 2013, no tempo em que ela assinava Ísis Dumont. Posteriormente cheguei a conhecê-la pessoalmente. Logo percebi nela um verdadeiro talento literário, uma escritora dotada de visão humanista, algo que vem rareando nos tempos atuais.
Em seu novo livro consta de pequenos trechos em poesia e em prosa, ao longo de aproximadamente 150 páginas. Abre com uma singela dedicatória à sua avó materna, Josefa Maria, ou Dona Zefinha: “Hoje reconheço o quanto ela foi importante para nós, e o quanto seus conselhos e exemplos me fizeram e fazem até o presente... lembrá-la diariamente com muito carinho e saudade”.
A autora deixa clara a sua fé religiosa, como no poema “Afinal, o que é a vida?”, na página 36:
“Senão uma chegada permitida/por Deus Pai Criador,/que almeja ao nosso lado/trilhar todos os caminhos/nos protegendo aonde for!”
Aparecida, paraibana de Sertãozinho, professora, especializada em Psicopedagogia Clínica e Institucional, é uma intelectual na acepção da palavra, autêntica, sem pedantismo. Possui visão social que não consiste em comprazer-se nas descrições sórdidas da vida, como outros autores fazem, mas na compreensão e no compadecimento.Como na crônica da página 100, “No meio da noite gritos de mulher”: “Não julguemos mal uma mulher, quando ela não consegue reagir. Por trás de uma mulher agredida há detalhes, recortes de história de vida que desconhecemos ou não temos capacidade para enxergar”.
Que a humanidade sofre continuamente, não escapa à observação da escritora:
“Já não há auxílio/”Cirineu” não existe aqui./Ninguém pode ajudar/Mas é necessário prosseguir/Não há estação onde descansar.”
O amor também é objeto dos versos inspirados da poetisa:
“Um dia escolhi ser flor/fui morar no teu jardim,/tocada por tuas mãos/te senti como um jasmim.”
(Poesia “És a própria natureza”, pg. 82)
E na breve “Quem dera” (pg. 123), o anelo por um mundo melhor:
“Quem dera eu não precisasse mais falar da dor,
que esse mundo fosse tão somente um lugar
onde reinasse bem mais o amor!”
Eis aí um belo livro que pode ser tranquilamente ofertado como presente de Natal ou de aniversário.
Rio de Janeiro, 11 de maio de 2022.