Duma Key
Um real navio fantasma. Embora já não singrasse os mares, com um pouco de “sorte” seria possível mirar, direto de uma ilha deserta, a eterna morada dos mortos enquanto estivesse ancorado no golfo. Ou quem sabe desfrutar do local quase completamente desabitado e capaz de acentuar as habilidades demostradas por seus habitantes.
No entanto, na maior parte do tempo não são apenas de preceitos sobrenaturais que sobrevive Duma Key, lançado em 2008 nos Estados Unidos. O ambiente praiano engendrado por Steven King é um atrativo à parte, deveras inspirador. Às vezes, o leitor parece ser capaz de experimentar o natural aroma do mar, com a brisa ensandecida a desgrenhar seus cabelos.
Em suma, a narrativa se desenrola pelo poder da imersão, mistérios começam a saltar os olhos, devidamente condensados em uma história que trata mesmo de superação. Nessa leva, o leitor acompanha Edgar Freemantle, empreiteiro considerado uma sumidade no ramo da construção. A sorte vira de lado quando perde o braço após um grave acidente, ocasionando ainda problemas mentais.
Além do braço e a sanidade, o acidente acarreta uma profunda depressão e fim do casamento. O antigo empreiteiro é convencido pelo terapeuta a mudar de ares, no melhor estilo “cura geográfica”, indo parar na ilha de Duma Key, dividindo o tempo entre a pintura e uma inusitada amizade com o cuidador de uma idosa diagnosticada com Alzheimer.
Em um primeiro momento, a narrativa se concentra na desenfreada luta de Edgar, seja para recuperar a sanidade e encontrar um novo sentido à vida e para isso o primeiro passo é retomar a autoestima perdida no acidente. Os personagens críveis, bem delineados, decorrem da voz do protagonista escolhido como narrador, uma cartada que se mostrou bastante acertada.
O sobrenatural, uma marca invulgar no trabalho de King, passa a ganhar terreno à medida que o dom da pintura passa a despontar, além de um conjunto de inserções paralelas, a princípio até um tanto ambíguas, mas vão tomando forma, muito graças aos quadros pintados por Edgar, também servindo como elo entre os personagens e eventos ocorridos na ilha.
Duma Key oferece a chance de espraiar um ambiente encantador e quando as férias parecerem enfadonhas, mistérios ingentes alvorecerão. Só é preciso cuidado ao incorporar o estilo Sherlock Holmes e o tétrico navio tiver irrompido o horizonte.