A mansão misteriosa de Arsène Lupin
A MANSÃO MISTERIOSA DE ARSÈNE LUPIN
Miguel Carqueija
Resenha do romance policial “Arsène Lupin e a mansão misteriosa”, de Maurice Leblanc. Ciranda Cultural, selo Principis, sem endereço, 2021. Título original francês: “La demeure mystérieuse”. Tradução: Francisco José Mendonça Couto.
Segundo a orelha, a novela foi originalmente publicada em série (folhetim) em 1928 em “Le journal”, saindo em livro no ano seguinte.
Arsène Lupin, o “ladrão de casaca” criado por Leblanc, é uma espécie de oposto de Sherlock Holmes, do britânico Conan Doyle. Homem de mil disfarces e de várias identidades, Lupin poderia ser mais interessante se fosse menos frívolo, e talvez as suas melhores histórias sejam aquelas inseridas no contexto da Primeira Guerra Mundial. Outras, como esta, mostram o Lupin conquistador, que se apaixona facilmente e não obstante muda muito o objeto de seu amor; capaz de ódio e ciúme, e nem sempre coerente, Lupin é narcisista, julga-se invencível e ainda por cima zomba da polícia.
No entanto, e este é o truque do autor, acaba combatendo gente pior do que ele. Aqui, com a falsa identidade do Visconde Jean D’Enneris, busca conquistar a modelo Arlette Mazzole e derrotar seu rival, Antoine Fagerault, que posa de herói e salvador de Gilberte e Adrien Mélamare, os irmãos atormentados por uma sina que acompanhava a família, e por tabela de Arlette e Régine Aubrey.
Achar uma coerência numa trama complicadíssima e com vários agentes nas sombras é um trabalho de Hércules para Arsène Lupin, mas é um pouco difícil de engolir o detalhe da existência de uma mansão que é réplica perfeita de outra, até no mobiliário, o fator que confunde os envolvidos no caso, inclusive o infeliz policial Béchoux.
No fim, os truques usados por Arsène Lupin para ludibriar todo mundo parecem funcionar apenas porque ele não defronta com outras mentes poderosas como seria um Hercule Poirot, de Agatha Christie, se ele pudesse aparecer na mesma história que Lupin.
Rio de Janeiro, 20 de março de 2022.